sábado, 17 de dezembro de 2011

ÀS ONZE, RODANDO BOLSINHA NA PRESIDENTE VARGAS

Dizem que, enquanto envelhecemos, vamos deixando pelo caminho a noção do ridículo, a consciência do que podemos ou não fazer, do que é apropriado em sociedade; enfim, parece que perdemos os limites e o senso crítico. Outro dia, peguei-me dizendo para um corretor que achava um absurdo o que a empresa dele estava fazendo, sem sequer usar meias palavras. Foi quando tive certeza de que cheguei, finalmente, à idade do “não estou nem aí para o que vão pensar”. Não há mais trava na língua... quando você vê, já disse... Não há trava em quase nada... quando se vê, está feito.
E deve ter sido essa falta de bom senso que me fez protagonista de uma das maiores imprudências que uma pessoa, qualquer que seja a idade, pode cometer. Simplesmente, enfrentei dois rapazes que queriam assaltar-me, na saída do metrô da Presidente Vargas.
O título dessa crônica é, como todos já perceberam, uma brincadeirinha, tipo manchete de jornal popular. Lembram-se do “Violada no palco”, quando Sergio Ricardo quebrou o violão no festival da Record em 67? Pois é, mas eu, literalmente, rodei bolsinha na Av. Presidente Vargas. Confesso que foi às 11 da manhã, e juro que não estava a oferecer meus favores...Também, quem ia querer ?
Acabara de jogar o celular na bolsa, já no último degrau da boca da estação, quando dei de cara com os jovens que, a poucos metros de mim, fizeram um sinal com as mãos que, sem deixar dúvidas, significava que eu tinha sido a “escolhida”. Não pensei duas vezes... nem uma só. Aproveitando-me da distância que nos separavam, peguei a bolsa que trazia nos ombros e comecei a rodá-la rapidamente, como se fosse uma funda. Eu era o próprio Davi contra Golias... E, como ele, venci os filisteus... os meus são cariocas. O corpo imitava movimentos que poderiam, muito de longe, é verdade, lembrar a ginga dos lutadores de capoeira. E os meliantes, na certeza de que a velhinha aqui é louca de pedra, deram meia trava. Enquanto olhavam, perplexos, aquela cena ridícula, o sinal fechou, oferecendo-me a oportunidade de atravessar a rua e buscar refúgio no estacionamento em frente.
Quando olhei para trás, já a salvo, vi que obrigavam uma jovem a abrir a bolsa e entregar o celular. Ela nem estava com o aparelho na mão, o que significa que estar ou não conversando ao telefone não faz qualquer diferença.
Sobre correr riscos quando não é realmente necessário, tenho profunda curiosidade para descobrir o que leva alguém a fazer alguma coisa cujos desdobramentos podem oferecer perigo. Jamais saltaria de asa delta da Pedra da Gávea, mesmo sabendo que o que se vê lá de cima é deslubrante, tampouco escalaria o Pão de Açúcar, ou seja, coisas do gênero não me atraem. Meu signo em Touro, com ascendente em Virgem, “obriga-me” a ficar com os pezinhos grudados no chão.
Por outro lado, o que seria de mim se Santos Dumond não tivesse voado no 14-Bis, mesmo podendo cair lá de cima e se arrebentar aqui no chão ? Estaria sentada nesta mesma cadeira, sem ter visto um centésimo do mundo maravilhoso que existe por aí. Isso sem falar em Colombo, em Cabral. Se não tivessem se mandado de lá, procurando o novo, apesar dos riscos que já sabiam existir além do horizonte azul, como estaria a vida nesse planeta? Se bem que há quem diga que estaria melhor...
E o que seria, também, de todos nós, se não ousássemos deixar um emprego chato e sair por aí procurando algo desafiador, se não nos aventurássemos em um novo relacionamento? Mas convenhamos, enfrentar dois assaltantes apenas rodando bolsinha é um pouco demais! A única certeza que tenho é que, em certos aspectos, tenho que tomar jeito e recuperar um pouco de juízo e de bom senso.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Q.I. DE AMEBA

“Além de atuarem sobre a distensão celular, as auxinas produzidas pelo meristema apical do caule inibem a atividade das gemas axilares. Fala-se, então, em dominância apical. Ao se retirar a gema apical, verifica-se que as gemas axilares saem do estado de dormência, dando origem a ramos laterais, folhas e flores.“ Juro que isso estava escrito em um livro de Ciências para o Segundo Grau. Como alguém pode imaginar que vai despertar o interesse dos jovens de 16 ou 17 anos com um texto como esse, enquanto o mundo, aqui fora, oferece coisas tão mais interessantes e menos enroladas?

Lembrei das auxinas ontem, ao espichar o olho para o livro do meu companheiro de assento no metrô. O tal senhor provavelmente é psiquiatra, psicólogo, ou coisa do gênero, já que, na contracapa da obra, apareciam os nomes de Freud e Lacan. O capítulo falava no aparente do aparente. Mesmo sendo algo bem deselegante, tentei ler um dos parágrafos da página aberta bem pertinho de mim. Seria mais fácil se o texto fosse em grego... Não consegui saber do que se tratava e só posso atribuir isso a um castigo divino pela minha indelicadeza em ficar olhando livros alheios por cima dos ombros. Naquele tal texto didático de Ciências que me assustou, pelo menos deu para entender que eram estudos sobre vegetais. No aparente do aparente, nada me apareceu aos olhos, ao cérebro ou à memória.

E lá fui eu, uma senhora moderna, procurar o que poderia ser isso na enciclopédia do século XXI, mesmo sabendo que nem sempre essa fonte é confiável. O Google logo me ofereceu um sítio da Editora Rocco sobre “O Segredo Judaico da Resolução de Problemas”, de Nilton Bonder. O autor faz um verdadeiro passeio entre as dimensões que atribui à Realidade, traduzindo-as em quatro mundos - o aparente do aparente, o oculto do aparente, o aparente do oculto e o oculto do oculto. Chico Buarque, quando compôs Construção, fez uma farra daquelas trocando as palavras de cá para lá. No comecinho, diz que alguém tropeçou no céu como se fosse um bêbado, enquanto, no final, diz que tropeçou no céu como se ouvisse música... Em outro verso, tinha atravessado a rua com seu passo bêbado, e tinha dançado e gargalhado como se ouvisse música... Quando um poeta joga as palavras de um lado para outro brinda-nos com a mais bela poesia. Enquanto isso, alguns intelectuais, com o mesmo jogo, causam um curto circuito no cérebro da gente!

O texto se propõe a demonstrar que não se pode olhar os problemas de forma rígida, dentro de um único contexto. Fiquei tentada a comprar o livro, mas desisti logo, lembrando-me de que não consegui nem mesmo entender o tal parágrafo do vizinho. Isso me confirma a sensação de que alguns intelectuais acham que a demonstração do saber passa por explicações muito complexas, ininteligíveis. Resultado - nós, pobres mortais, ficamos alijados do processo de conhecimento ao desistirmos no primeiro parágrafo.

A sorte é que acabo me divertindo horrores com minha ignorância, e tampouco me abala a autoestima não compreender, por exemplo, o que Roland Barthes queria dizer quando afirmou que a burrice não estaria ligada ao erro.Explicou que “Sempre triunfante (impossível de vencer-se), o seu triunfo tem a ver com uma força enigmática: É o estar-presente nu e cru, no seu esplendor. Daí um terror e uma fascinação, a do cadáver. (Cadáver de quê? Talvez da verdade: a verdade como morta.) A burrice não sofre (Bouvard e Pécuchet: mais inteligentes, sofreriam mais). Então, ela está presente, obtusa como a Morte.” Juro que não inventei isso tudo... podem conferir no livro “A Imagem”, de 1977.

Cá com meus botões, pergunto-me se essa linguagem complicada seria o jeito de, disfarçadamente, manter o conhecimento longe da massa ignara - conhecimento é poder, já dizia Bacon no século XVII. A verdade é que, em alguns momentos, sinto total afinidade com a ameba, que representa uma das formas de vida mais simplificadas do planeta. Uma única célula... não consegue nem ter dois neurônios! Até para a reprodução, nesse protozoário a coisa vai pela forma mais fácil - divide-se em duas e pronto, resolvido o problema da perpetuação da raça, sem obedecer regras, esperar o macho querer, sem envolver qualquer sentimento, cobrança e sem precisar agradar o outro. Em compensação, é um processo muito do sem graça.

Voltando ao aparente, ao oculto, assunto do tal livro que compartilhei no metrô. No primeiro momento, tudo me parece óbvio, pois aprendi há tempos que as aparências enganam e que não podemos acreditar que tudo que vemos é realmente como estamos vendo. Acreditei que tinha entendido tudo – que temos o aparente do aparente, o aparente do oculto, o oculto do aparente e o oculto do oculto. Mas como o livro tem 200 páginas, a explicação não deve ser tão simples assim. Ou tem aí um pulo do gato que eu, na minha ignorância ímpar, não percebi, ou, então, a coisa é simples mesmo e o sábio está querendo complicar. Não me considero oligofrênica, nem mesmo em seu grau mais leve, mas tem horas que meu cérebro não apresenta qualquer diferença em relação ao daquela ameba já falada. Meu quociente de inteligência não se localiza entre 0 e os 90 graus e, sim, de menos 90, de tão difícil que se torna o entendimento de certos textos. Por isso, classifiquei-me como ameba quando desconfiei ter um único neurônio, razão pela qual não entendi o que Barthes falou sobre minha burrice!

Enfim, hoje, finalizo o dia com a certeza de que sou uma ameba; infelizmente, apenas uma ameba comum, não uma ameba dançante, daquelas que a Pietrina Checcacci eterniza em seus lindos quadros. E como Sócrates dizia que “a maneira mais fácil e mais segura de vivermos honradamente consiste em sermos, na realidade, o que parecemos ser”, vou ter que descobrir o que pareço ser. Para ter certeza disso, vou ter que entender, antes, o que é o aparente do aparente, o aparente do oculto, o oculto do aparente e o oculto do oculto... Quando isso acontecer, provavelmente vocês poderão ver-me como realmente sou – uma ameba morena... mas burra.

Renoir dizia que um intelectual seria o homem que se referia às coisas simples de uma forma complicada, e que um artista seria o homem que diria uma coisa difícil de forma simples. Não seria uma ótima ideia se todos nos inspirássemos nos artistas ? Sonho com isso, ainda mais agora, que me encontro em situação desesperadora por causa dessa sofisticação toda usada pelos que parecem mais inteligentes. Não consegui entender o que um intelectual conhecido quis dizer quando afirmou que um filósofo “vive o descontínuo em relação à explanatória de antigo ritmo”. Estou esperando que alguém me ajude na tradução... esperando sentada, é claro.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

ESPELHO, ESPELHO MEU...


... existe alguém mais bela do que eu? Tenho mais sorte do que a madrasta da Branca de Neve. O meu espelho não responde. Se o fizesse, diria que tem muitas mulheres mais bonitas do que eu e mencionaria, no mínimo, 5 milhões, começando pela Gisele Bundchen, Paris Hilton, Natalia do Vale, a vizinha do 603, a Maristela...
Há muito, fiz minha cabeça. Não dá para competir, e tenho consciência disso desde pequenininha. O pior é que nem posso culpar a idade e tentar enganar os conhecidos mais recentes, pois as fotos não mentem jamais! Mas devo dizer que não tenho mágoa em relação à Natureza. Ela não foi madrasta... foi apenas mãe ausente. E me deixou por conta dos disfarces da maquiagem, das roupas mais interessantes, e da tal da beleza interior. E é nessa que uns 80 por cento da população feminina precisam investir. Não tem saída!
Voltando ao terrível espelho, Vinicius de Moraes me vem sempre à cabeça com sua terrível ameaça – “As muito feias que me perdoem, mas beleza é fundamental”. Pois é, e o que fazemos nós, simples mortais? Cortamos os pulsos? Vamos nos queixar ao bispo?
O espelho me olha, sem parar, enquanto eu, desolada, percebo as ruguinhas, as rugonas, o despencado... Plástica? Nem pensar. Apresento apenas um dos muitos motivos – sou alérgica. Portanto, melhor ser caidinha viva do que mortinha com cara de 10 anos menos.
Na manhã de um belo domingo, há pouco tempo, vi um programa de TV em que tudo versava sobre moda e beleza, assunto que, mesmo não me atraindo de maneira especial, vez por outra desperta alguma curiosidade nessa cabecinha metida a intelectual. Acabo, então, de olho no que é “fashion”. A inspiração para essa crônica chegou no momento em que a belíssima apresentadora do tal show, conhecida atriz, afirmou que quase enlouqueceu ao descobrir sua primeira ruga. Ela tem trinta e cinco anos. Foi assustador! Não a tal da primeira ruga, mas o que vi na telinha naqueles trinta minutos seguintes.
Uma jovem de vinte e sete, entrevistada pelo programa, confessou aplicar o tal do botox na testa e preencher seu “bigodinho chinês” com ácido hialurônico já faz algum tempo! Eu, na sexta década, mesmo precisando muito desse tipo de recauchutagem, fico receosa de injetar qualquer substância no organismo. Sei lá o que pode resultar dessa invasão química! E começar tão precocemente me parece uma verdadeira roleta russa. Milhões de mulheres que nem chegaram aos quarenta fazem essas aplicações com bastante regularidade! E ficam todas super aflitas com qualquer risquinho que, por ventura, apareça em seus rostos bonitos...
Fui pesquisar o tal do botox, denominação que é, na verdade, a da marca americana da toxina botulínica; como foi a primeira a ser liberada comercialmente para uso dermatológico, deixou o nome da mesma forma que a gilete, o modess, o gumex... Aplicada em pequenas doses, bloqueia o neurotransmissor responsável pelo envio das mensagens elétricas aos músculos. Minha vontade de ficar mais bonita não supera o pavor ao imaginar que uma toxina dessas vai ser injetada no meu rosto. E se eu ficar ainda pior? E se meu organismo acumular a toxina, e eu acabar contraindo o botulismo? Até me acho meio histérica com relação ao botox, mas aprendi que seguro morreu de velho.
Todo mundo pode rebater minhas exageradas e racionais considerações dizendo que o procedimento segue exatamente o mesmo princípio da vacina, quando pequenas dosagens de uma determinada substância são inoculadas na pessoa. É certo que isso não causa qualquer mal, na grande maioria dos casos; muito pelo contrário, tendo em vista que o organismo cria anticorpos que vão imunizá-lo contra aquela determinada doença. O problema é que a vacina é aplicada uma só vez na vida, em certos casos, algumas vezes, mas sempre poucas. Jamais de seis em seis meses, de ano em ano, como é o botox. Sinto muito, mas não vou me arriscar.
Ficou simplesmente impossível ser uma mulher confiante nessa era em que o culto ao corpo ultrapassou o limite do razoável. Os padrões são altos, mas tão altos, que nossa vida se tornou dificílima. Temos que nos parecer, minimamente, com aquelas beldades que povoam todas as revistas, de moda ou não, que aparecem nas telinhas, na telona... Mal completam dezoito anos, as meninas iniciam seus tratamentos para alcançar a beleza, essa coisa quase inacessível, muitas vezes terrível mesmo. Tornamo-nos escravas da ditadura que é a busca do ideal, vítimas do medo sempre crescente do envelhecimento. Nessa busca, algumas encontram a anorexia, devastadora consequência da expedição ao mundo que estão dizendo ser o da beleza.
Procuro me conformar com o velho ditado de que o belo está no olho de quem vê. O drama é que 90% de nós estaremos ferradas, caso esse determinado olho esteja contaminado pelas pernas da Ana Hickmann, pelo porte da Gisele Bundchen ou pelo corpo da última miss Brasil. Eu, felizmente, acabei aceitando a conversa (consolo, melhor dizendo) de que a beleza interior é a que conta e não tenho tido problemas psicológicos mais sérios com o meu invólucro.
Fiz um esforço enorme para me lembrar da primeira ruga... Não consegui. Vieram à mente o primeiro dia de aula, o primeiro beijo, a primeira noite de amor, o nascimento do primeiro filho (e do segundo, da terceira), a primeira vez que ouvi Jade dizer – vovó! Fui adiante. Das rugas, só me lembro bem das que me deram muita satisfação. Explicando melhor - quando saí da cirurgia de catarata, olhei-me no espelho e vi dezenas delas. Que felicidade! Havia recuperado a visão, aquela visão que me faz ver o mundo colorido, com muito brilho, muitas vezes deslumbrante... foram as ruguinhas mais comemoradas do planeta!

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

O BRASIL ESTÁ COM METÁSTASE


Procuro avaliar os últimos acontecimentos com a máxima isenção possível. As informações, infelizmente, não trazem mentiras ou exageros e o que se vê é de cortar o coração de qualquer brasileiro, mesmo que ele só tenha um pinguinho de amor à pátria.
Não fossem os escândalos suficientes, entendi que nossa autoridade maior exige ser avisada, com antecedência, de toda e qualquer atividade da Polícia Federal. Em outras palavras, precisa saber quem é alvo de averiguações, para que, em nome dos acordos feitos - a maioria acertos espúrios, sabemos bem - possa livrar da lei eventuais amiguinhos. O problema é que tais amiguinhos estão roubando o país; existe outro termo para o que fazem? Não. Por não ser criminalista, fico na dúvida se deveria chamar de furto ou roubo, mas acredito que seja roubo, pois o Código Penal define esse crime como a subtração de coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência. Estamos reduzidos à impossibilidade de resistência a partir do momento em que são os detentores do poder os que praticam tantos atos condenados não apenas pela legislação em vigor, mas também pela moral e bons costumes.
Voltando ao famoso artigo 157, tenho uma dúvida – o futuro de um país é coisa móvel alheia? Para mim, é. O futuro do Brasil é dos quase 200 milhões de habitantes que somos hoje em dia, não deles! Outra pergunta - Quem pratica o crime é apenas aquele que diretamente subtraiu a coisa alheia? No parágrafo primeiro da citada disposição legal, vê-se que se equipara àquele que rouba, e por isso na mesma pena incorre, quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro. Que coisa terrível constatar-se que os atos de nossos governantes estão descritos como crimes... Um desânimo cívico de deixar qualquer um na mais profunda desesperança.
Não sei se estou exagerando, mas essa determinação, pedido ou seja lá o que for, de que a Presidência da República seja comunicada das atividades policiais com antecedência me parece muito estranha. Será que não poderia ser comparada à solicitação de alguma associação de moradores que, em caso de blitz em sua comunidade, igualmente seja avisada com um prazinho para que possam ser assegurados seus acordos com as “bases”, já que, delas, da mesma forma necessita para o bom andamento da vida em comum? Eventualmente, algumas dessas bases podem ser pessoas da comunidade que não estejam do lado da lei, estejam, por exemplo, comercializando substâncias ilícitas. E os dirigentes comunitários vão se achar no direito de também reivindicar um aviso prévio, pois precisam sustentar os acordos, sejam eles com pessoas do bem ou não.
Por que só deputados podem bater o pezinho e, zangadíssimos, dizer que não cumprirão com as atividades pelas quais são regiamente pagos enquanto seus amiguinhos meliantes estiverem sendo ameaçados de punição pelos crimes que cometeram? Por que não podemos todos dizer que, agora, somos nós que vamos bater o pezinho e deixar de cumprir com nossas obrigações enquanto essa pouca vergonha imperar no país? Henry David Thoreau, em 1849, quando publicou suas idéias sobre a desobediência civil, devia estar sentindo o mesmo desapontamento que os brasileiros honrados carregam na alma nesses últimos tempos. Gritou em alto e bom som que os indivíduos não podem permitir que os governantes estejam acima da lei, com suas consciências atrofiadas, atuando de forma injusta e criminosa.
Lembrei-me da experiência que tive durante minha gestão como diretora de escola na Cidade de Deus. Naqueles anos oitenta, eram 3 as associações de moradores, cada uma com interesses diferentes, pois a comunidade, com cerca de 120 mil habitantes, apresentava características próprias em cada um dos subgrupos. Seus dirigentes davam, sempre, belíssimos exemplos de civismo e responsabilidade. Quando o tema de discussão versava sobre Educação ou sobre problemas na área de Saúde, os interesses do grupo como um todo sobrepujavam os interesses específicos, que eram imediatamente deixados de lado. Atuavam todos em prol do bem comum.
O mundo está à beira de um colapso econômico de trágicas consequências, e nossos parlamentares e administradores públicos decidem fazer greve branca enquanto seus interesses particulares, espúrios, repito, estejam “em perigo”. Para onde quer que nossa atenção se dirija, vemos que são muitos os órgãos contaminados. Por isso, inspirada em conversa com Rosa Furtado sobre esse desastre nacional, decidi falar em metástase, falência múltipla dos órgãos. Seria essa a “causa mortis” de nosso país?
Acabei de receber um email dos queridos amigos Sonia e Chaim que veio a calhar. Ayn Rand, filósofa russa, dizia que : “Quando você perceber que, para produzir, precisa obter a autorização de quem não produz nada; quando comprovar que o dinheiro flui para quem negocia não com bens, mas com favores; quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais que pelo trabalho, e que as leis não nos protegem deles, mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos de você; quando perceber que a corrupção é recompensada, e a honestidade se converte em auto-sacrifício; então poderá afirmar, sem temor de errar, que sua sociedade está condenada”.
Mexi no finalzinho do texto... Escrevera que nada havia a acrescentar, além de meu pedido de desculpas aos leitores de meu blog, que sempre encontram crônicas leves, todas com um razoável toque de humor; porém, nesse momento, é impossível falar de flores, pois nosso país corre um grande perigo... Tive que escrever mais um pouco, já que Maria Sylvia me mandou pensamentos do Saramago, dos quais pude pinçar um que cabe como uma luva por aqui. Um dia, ele disse: - “Estou convencido de que é preciso continuar a dizer não, mesmo que se trate de uma voz pregando do deserto.” Vocês todos topam dizer NÃO ?

sexta-feira, 24 de junho de 2011

E VAI ROLAR A FESTA!

Junho 2011

A ideia estava lá... há muito. E a hora chegou – vou publicar o livro com as crônicas de viagem. Confesso ainda não ter me livrado daquela mania de professora, e esforcei-me para dar um basta nas infindáveis releituras do que tinha escrito. Emidio, antes de ilustrar e fazer a capa, deu ótimas sugestões e, enfim, coloquei o ponto final e mandei para a revisora. Sei que não terei tempo de aprender as mudanças recentes em nossa língua... preciso do trabalho dela . Fico arrepiada quando penso que devo enterrar a maioria das regras de acentuação que permanecem gravadas na minha memória, das quais me lembro melhor do que do rosto dos mestres responsáveis pelo aprendizado. Ideia não tem mais acento. Como pode? Até onde sei, como segundas vogais tônicas de um hiato, o I e o U ainda são acentuados. Tomara. Enfim, a revisora deu conta do recado. Estava ali... pronto. A boneca ficou ótima, e só foi preciso dizer – pode imprimir. Começou, então, outra coisa deliciosa. Preparar a festa.

É claro que não poderia ser um lançamento tradicional, em uma livraria, com todos os amigos esperando na fila, por mais de uma hora, que chegasse a sua vez. Depois do tormento, cada um receberia o livro autografado, um beijinho, um abraço e só. Ficaria mais um pouco, para conversar com alguns conhecidos e, logo, logo, iria embora.

As livrarias são um dos melhores lugares para se estar, normalmente... mas em noites de autógrafo, temos o problema da fila. Assim, uma entusiasmada contadora de histórias como eu, que escrevi, de maneira tão informal, sobre minhas viagens pelos Estados Unidos, não poderia imaginar uma noite de autógrafos do jeito tradicional. E, mais uma vez, decidi – e vai rolar a festa!
Será no play do prédio onde moro, na Lagoa, com aquela exuberante paisagem oferecendo-se despudoradamente para o encanto de quem estiver por lá. Na verdade, como estarão presentes apenas os amigos, não acredito que pudesse ter escolhido lugar mais apropriado. O leitor compra o livro e vai se distrair com a deliciosa música ao vivo oferecida por Marco Antonio Caixeta, teclado e voz; em determinado momento, Nilson Nunes e Tatiane apresentarão esquetes para alegrar ainda mais o evento. Por seu turno, autora e ilustrador estarão “visitando” as diversas mesas e conversando com os convidados enquanto autografam os livros.

No final, haverá um sorteio com algumas coisas bem interessantes, como a homenagem a Fernando Pessoa criada por Emidio, o livro com a trajetória artística de Marilia Kranz, uma aquarela de Pietrina Checacci, e outras surpresas mais. Estamos quebrando a rotina, para que combine realmente com o fantástico mundo da literatura, que proporciona tanto prazer e alegria.

Hoje em dia, temos a internet, os celulares, o skype, mas ninguém dispõe de tempo para estar com os amigos, que vão ficando cada dia mais distantes no cara a cara, como se fôssemos todos, agora, fastfriends. Pensamos nas pessoas sempre tão queridas e que estão a poucos quilômetros de nós... e raras são as vezes em que estamos realmente juntos.

Portanto, uma das principais razões para que seja organizada uma espécie de festa nesse lançamento é, sem dúvida, para delicada e disfarçadamente fazer com que as pessoas possam se encontrar e celebrar, mais uma vez, a Vida!

quinta-feira, 21 de abril de 2011

NOVAS DESCOBERTAS

Nos Estados Unidos, ninguém precisa de dinheiro... precisa mesmo é de crédito. Tudo pode ser comprado a prazo, a longo prazo. A dificuldade se encontra mesmo é em construir um histórico para empréstimos e parcelamentos. Como os juros sempre variam, não só de financeira para financeira, mas também de pessoa para pessoa, é fundamental estabelecer de vez um bom nome. Para começar, faz-se um depósito para garantia do banco que lhe oferece um cartão de crédito. Gasta-se até aquele limite e, quando chegar a fatura, é preciso fazer o pagamento integral. O valor garantido não é tocado e continua como garantia. Não adianta comprar com dinheiro vivo, pagar tudo à vista, como tampouco importa ter um saldo bancário elevado. É preciso comprar a crédito e, aos poucos, ficar “confiável”. Construída a tal história econômica, é só sair comprando e comprando. Para o bem e, principalmente, para o mal.
No Brasil, parece que não é muito difícil conseguir-se um empréstimo. Antes, eram as contas de telefone que garantiam o dinheiro tomado, mas isso acabou com a expansão dos serviços de telefonia. Agora, são os aposentados o alvo fácil das financeiras - basta levar o contracheque e eles emprestam, emprestam... e os coitados dos velhinhos ficam com a renda comprometida de uma forma terrível.
Eu construí “crédito” por aqui apenas conversando. Provavelmente, foi minha “conversa mole” de advogada. Recém chegada a essas praias, quando fui pagar umas roupas de festa de que havia gostado, a vendedora, muito gentil, ofereceu-me o cartão da loja, a Macy’s. Expliquei que não era residente e, por isso, não tinha o tal do Social Security Number, tipo CPF deles. Ela não desistiu e ligou para algum departamento da loja, falou por uns 10 minutos e, então, quem estava do outro lado da linha quis conversar comigo. Foi um papo de quase meia hora... E não é que saí, na hora, com o cartão da famosa loja? Meu filho, mesmo com visto de trabalho, levou um ano para conseguir isso! Para deixar a história ainda mais interessante, confesso que, ao conseguir o cartão, deram-me um desconto extra de vinte e cinco por cento! Dos 400 dólares devidos, arquei apenas com 300!
Como tudo tem dois lados, essa facilidade em comprar tudo a prazo pode ser um tiro pela culatra. Ninguém poupa dinheiro por aqui. Há um comprometimento quase integral do que se ganha com prestações e novas aquisições... Como consequência funesta, na terceira idade a coisa fica complicada. Quase ninguém tem uma reserva estratégica para as emergências que teimam em aparecer.
A aposentadoria máxima oferecida pelo INSS no Brasil é, hoje, de cerca de R$ 3.500,00. Aqui, o valor repassado pelo sistema do Social Security também varia muito, do mesmo modo dependendo do tempo e do valor da contribuição. Não descobri quanto é o máximo ou o mínimo. Em princípio, seria uma complementação ao que as pessoas teriam poupado em vida, mas alguns tantos vivem mesmo com esse dinheiro como renda única.
O sistema previdenciário é muito mais rígido no país do capitalismo. Não há hipótese de alguém receber pensão como viúvo ou viúva antes de fazer 60 anos! Se o cônjuge morreu e você ainda não chegou lá, pode tratar de arranjar um emprego para se sustentar. Filhos até 18 anos são protegidos, é claro, e recebem. Somente após tornar-se sexagenário, você poderá requerer. E, quando fizer 62, se quiser pleitear sua própria aposentadoria (80% do valor que seria), terá que abrir mão da pensão pela viuvez, Aposentadoria integral é concedida aos 65, caso não tenha pleiteado antes. Se a pessoa for deficiente ou portadora de doença grave, terá um auxílio em razão disso, auxílio esse que nunca poderá se somar a qualquer outro tipo de pensionamento. Os militares, tenho certeza, podem acumular. Quantos aos funcionários públicos, já não sei, mas acho que também são beneficiados.
Como no regime francês, o governo americano só repassa, aos viúvos um percentual do valor que caberia ao instituidor da pensão, caso estivesse vivo – não há repasse integral. Aqui, são 71,5%. É claro que você pode escolher a que lhe dará maior renda – sua aposentadoria ou a pensão parcial. Se, eventualmente, no meio do caminho decidir mudar de fonte, já que a outra se tornou mais atraente, será para todo o sempre... Nada de arrependimento – trocou uma vez, sem chances de voltar atrás.
Enquanto isso, no Brasil, é uma festa. Tem gente com 3 fontes de renda, entre as pensões e aposentadorias. Pobres cofres públicos... não há orçamento que resista à tamanha sangria.
Essa é a razão para que muitos idosos aqui nos Estados Unidos trabalhem até os oitenta e poucos anos. Gastam tudo durante a vida inteira, e acaba não sobrando nada. A sorte é que os empregadores, para determinados cargos, não se importam com a idade dos candidatos, e sempre há oportunidade nas lojas. Vejo-os sempre muito animados desempenhando suas funções. De certa forma, sentem-se úteis e aproveitam para se distrair.
Além de não fazerem poupança, muitos americanos compram muito, mas muito mais do que precisariam em suas vidas. Ficam, então, sem lugar para guardar tanta bugiganga. Foi quando entendi para que servem os milhares e milhares de “storages” pelo país afora. Nas incontáveis viagens que fiz por aqui, mesmo quando deixava as vias principais, em busca das surpresas que as pequenas estradas oferecem para os mais atentos, deparava-me, no meio do nada, com esses depósitos. Neles, são guardados os objetos que já não cabem nas casas e que não são mesmo muito importantes. E mais! Por incrível que pareça, as garagens americanas não guardam os enormes e incrementados carros que vemos pela estrada a fora. Ficam estacionados nas ruas, ao relento, enquanto grande parte da tralha acumulada fica no espaço projetado para eles. Cada sociedade com suas próprias manias e práticas.

Sobre essas empresas de depósito, descobri que, além de seguro, frete grátis, e outras tantas facilidades, algumas oferecem compartimentos climatizados. Dez metros cúbicos custam 50 dólares por mês, e são do tamanho suficiente para guardar toda a mobília de um apartamento de cento e poucos metros quadrados. Pelo menos, é o que diz a propaganda. No Brasil, para o mesmo espaço, paga-se cerca de 200 reais. Continuo com a sensação que somos um povo muito mais rico do que o americano. Pensando bem, em muitos aspectos, somos mesmo!
Outra diferença que percebo é a dificuldade que as famílias têm em obter ajuda no cuidado com os filhos pequenos. Uma babá profissional, a “nanny”, custa uma fortuna, e o orçamento da classe média não comporta um gasto desse tamanho. A figura da babysitter é diferente, pois atua esporadicamente, em geral nas sextas e sábados, quando o casal tem compromisso à noite ou quer um pouco de privacidade. Os adolescentes aproveitam para complementar a mesada fazendo esse trabalho, na base de dez dólares por hora, valor de Houston. Ouvi dizer que, em Nova York, o preço dobra. Jade, minha neta que chegou aqui com 13 anos, conseguiu comprar o laptop dos sonhos em pouquíssimo tempo. Os três garotinhos levados que foram seu teste de fogo não deixavam por menos. Logo, logo, porém, conseguia dar conta do recado sem pedir orientação pelo celular de meia em meia hora. E a atividade de babá rendeu-lhe belos trocados.
Falando em salários, e como estamos no mês de eleições para prefeito e vereadores, saí em busca de dados sobre o que ganham os executivos municipais aqui nos Estados Unidos. É claro que vai depender de que cidade estamos falando. Nova York, com 8.400.000 habitantes e League City, com menos de 68.000, apresentam realidades diferentes demais para estabelecermos comparações. De qualquer forma, achei interessante saber que, em NY, o chefe do Executivo recebe 225.000 dólares por ano, podendo, ainda, morar na residência oficial, a Gracie Mansion, um construção datada de 1799.
Uma nota sobre isso – como a casa é mantida com dinheiro público, se o prefeito não for casado, não poderá levar a companheira para morar lá. O atual, Michael Bloomberg, divorciado, mora em outro lugar com a namorada. Tenho mais notícias sobre ele. Não descobri o que alegou, mas declinou dos tais vencimentos que chegam ao equivalente a 400 mil reais por mês. Recebe apenas um salário simbólico de 1 dólar a cada 30 dias.
Em NY, não há vice-prefeito e, na falta do chefe, quem assume é o procurador-geral, que ganha 165 mil dólares por ano. Só para brincarmos com números – o governador de São Paulo ganha 18 mil reais por mês. Fiquei sem saber quanto recebem os prefeitos do Rio e de São Paulo, mas deve ser por aí.
Impossível ter uma idéia mais aproximada de quanto os vereadores americanos ganham, em média, pois a variação não é só entre as cidades... tem lugares em que cada vereador tem um vencimento diferente. Na busca por informações, achei algo que me fez lembrar outro país muito meu conhecido... nosso conhecido. Em Los Angeles, os vereadores têm o maior salário daqui e, em 2009, já ganhavam quase 180 mil dólares por ano. Isso sem falar nas outras tantas regalias das quais não sei detalhes, mas provavelmente do tamanho e tipo daquelas que sabemos premiarem nossos esforçadíssimos legisladores cariocas. Conseguiram chegar a esse patamar graças a uma lei que estabeleceu um aumento periódico automático! Ou seja, está na lei, não há discussão. Enfim, houve uma grita geral, com a população furiosa com a farra em momento de gravíssima crise econômica, mas não sei se surtiu algum efeito.
Embora o mundo esteja globalizado, ainda conseguimos perceber diferenças, não só entre as culturas dos diversos países, como até mesmo de uma cidade para outra distante apenas alguns quilômetros. Em qualquer lugar do mundo, vamos encontrar coisas que poderiam nos servir de exemplo, como haverá um sem número de outras que não gostaríamos que nos “inspirassem”. O Brasil e os Estados Unidos são países de dimensões continentais, e cada pedacinho deles apresenta um jeito de ser e de viver. Não se pode pegar uma cidade brasileira e dizer – essa cidade mostra como o Brasil é. Jamais... cada uma é uma. O mesmo acontece por aqui. Tenho falado das várias que venho visitando, mas posso tecer melhores comentários daqui de Houston, pois não vim meramente como turista. Vivo um pouco a rotina de um cidadão comum e vou descobrindo uma coisa aqui, outra ali... e há sempre uma desculpa para nova escrivinhação.

terça-feira, 12 de abril de 2011

E DEUS CRIOU A MULHER


Ao ler esse título, os homens vão se deliciar, fantasiando com a loura das louras, a Bordot. O filme mexeu com a tropa toda, no mundo inteiro... ela simplesmente abusou - estava deslumbrante e preencheu, como poucas, a telona, a telinha, as revistas, os posters, os sonhos masculinos... Enquanto isso, a imensa maioria de nós, esquecidas pela Deusa da Beleza, fingíamos que não nos importávamos. Mas era difícil não sentir a autoestima fugindo pelo pé.


Não é porque acabamos de sair de março, mês internacional da Mulher, que vou falar do nosso clube. Há tempos penso em brincar com o assunto, usando meu arquivo de coisas engraçadas sobre nossa trajetória sobre a Terra. Para começar, trago logo uma de Lutero, ele mesmo, que disse, lá no século XVI, que “o pior adorno que uma mulher pode querer usar é ser sábia”. Só podemos rir disso, mas tal afirmação cabia como uma luva no contexto daquela época, quando a mulher era mero adorno O mais estranho é que chegamos à lua mas, para os conservadores de plantão, a mulherada mais esperta, consciente, é sinônimo de perigo iminente.


Não tenho dúvidas de que foi somente no século XX que começamos a ocupar um lugar melhorzinho na sociedade... na ocidental, por certo. Uma luta de séculos que ainda não acabou...em certos pontos do planeta, estamos no idade da pedra, infelizmente. Alberto, meu caríssimo primo, recomendou-me, anos atrás, um livro que me impressionou muito – As Boas Mulheres da China, da jornalista Xinran, que mora atualmente em Londres. Para não deixar a crônica pesada, nem vou comentar sobre o que li ou sobre tudo de inacreditável que ainda encontramos no mundo. O objetivo dessa conversa é outro.


As mulheres, havia muito, vinham expressando o desejo de maior participação na sociedade, e a tecnologia foi uma das alavancas para nossa, vamos dizer, libertação. Inconcebível um mundo sem máquina de lavar roupa, por exemplo. Depois que passamos a contar com ela, economizamos, a cada dia, horas e horas de trabalho insano, podendo dedicar esse precioso tempo a diferentes atividades, mais voltadas para nossos próprios interesses. Outro fator a nos colocar no lado de fora do “lar, doce lar”, foi a crescente demanda por mão de obra - durante as grandes guerras, vagas iam surgindo com a partida dos homens para os campos de batalha e, com o fim dos conflitos, houve considerável redução da população masculina. Aos poucos, fomos ganhando espaço, celebrando sempre cada pedacinho conquistado.


Sou uma perua discreta, mas sou perua, Todos sabem o quanto adoro brincos, anéis, óculos grandes, perfume francês, saltos bem altos... isso seria um desastre se tivesse nascido no século XVIII, lá na Inglaterra. Um dos artigos de sua Constituição Nacional deixava bem claro: “Todas as mulheres que seduzirem e levarem ao casamento os súditos de Sua Majestade mediante o uso de perfumes, pinturas, dentes postiços, perucas e recheios nos quadris, incorrem em delito de bruxaria e o casamento fica automaticamente anulado.” Teria o mesmo destino das bruxas de Salem. Não teria sobrado nada para contar os detalhes.


E quem pensa que isso só acontecia na Inglaterra, conservadora até o último fio de cabelo, está redondamente equivocado. A França, no século XIV, era de um rigor igualmente aterrorizante. Mas lembrei-me de que, quando criaram a Delegacia de Mulheres no Rio de Janeiro, foi porque, mesmo que estejamos no século XXI, ainda testemunhamos coisas inacreditáveis. Voltando ao passado - havia um tratado de conduta moral e costumes na monarquia francesa em que uma das regras previa que “Quando um homem for repreendido em público por uma mulher, cabe-lhe o direito de derrubá-la com um soco, desferir-lhe um pontapé e quebrar-lhe o nariz para que assim, desfigurada, não se deixe ver envergonhada sua face. E é bem merecido, por dirigir-se ao homem com maldade de linguajar ousado.” Quem diria. hein?


Já falei em Adão e Eva em outra crônica, onde fiz referência à versão dada pela cultura judaico-cristã - os dois estavam proibidos de comer o fruto da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal; Eva teria sido a mentora da desobediência. Acabaram expulsos do paraíso, legando a todos o pecado original. E as mulheres tiveram, como herança direta de Eva, a culpa por esse tal pecado original. Soube que a Inquisição, nos tenebrosos séculos em que perdurou, deu fim a cerca de 9 milhões de bruxos... desses, oitenta por cento eram mulheres. Dias Gomes, em seu “ O Santo Inquérito”, mostrou um pouco da loucura daqueles julgamentos. Branca é a heroína... morre, mas não trai seus princípios, suas crenças. Preserva sua dignidade.


Volto ao lado leve da conversa sobre nós, mulheres. Ganhamos menos que os homens ao exercermos funções equivalentes mas, segundo as recentes estatísticas, morremos mais velhas. Compensamos, com nossa maior resistência, a falta de força física. Parece que o cérebro masculino tem mais conexões entre os neurônios do que o feminino. Os cientistas explicam que isso não quer dizer que o homem seja mais inteligente mas, sim, que processa as informações de maneira diferente. Eu concordo. Social e emocionalmente, há marcantes diferenças nos entendimentos de cada um dos sexos. Os homens, sem dúvida, não conseguem entender a razão pela qual nós, mulheres, nos restaurantes, sempre vamos juntas ao banheiro. Por seu turno, é impossível entendermos como eles preferem ver um ridículo filme de terror a divertir-se com uma deliciosa comédia romântica...


Enquanto ia escolhendo as “máximas” para a crônica, deparei-me com uma das “pérolas” de Zaratustra sobre o sexo feminino. A vontade de ir um pouco mais além do que já sabia sobre suas idéias se fez presente, e isso me trouxe grandes surpresas. Mesmo tendo vivido no século VII A.C, é impressionante que tenha divulgado que “a mulher deve adorar o homem como a um deus. Toda manhã, por nove vezes consecutivas, deve ajoelhar-se aos pés do marido e, de braços cruzados, perguntar-lhe: - Senhor, que desejais que eu faça?” Chego a duvidar que tenha dito tal coisa. Melhor acreditar que foram seus inimigos que deixaram para a posteridade uma idéia tão absurda dessas como se dele tivesse partido., só para denegrir sua imagem.. Será?


Não parou por ai. Esse complexo filósofo pregava aos quatro ventos que deveríamos fazer ao próximo o que gostaríamos que o próximo fizesse conosco. Eu acho isso uma temeridade... E se o próximo não quiser fazer comigo o que eu quero fazer com ele?, Nossa, que confusão! Bem mais prudente dizer que não se deve fazer com o outro o que não se quer que façam com a gente. Mesmo sendo uma grande injustiça, para muitos nós não somos nada confiáveis. Vai ver que concordam com a letra da Rita Lee, que afirma ser a mulher um bicho esquisito - como podemos sangrar por 4, 5 dias e ainda sairmos inteiras disso? Inexplicável, eu sei.


Melhor terminar a conversa, com uma das “ gracinhas” de Petrarca – “A mulher é inimiga da paz, fonte de inquietação, causa de brigas que destroem toda a tranqüilidade; enfim a mulher é o próprio diabo. Roger Vadim discordava, sabemos - Deus foi o responsável pela criação da mulher. Primeiro fez o rascunho, o homem. Aprimorou no projeto definitivo. Seria um problema se Petrarca tivesse razão - ia ter muita gente preferindo descer do que subir, na certeza de que, conosco lá embaixo, seria tudo muito mais divertido. O melhor de tudo, na verdade, é que, nessa guerra dos sexos, os contendores se tratam, no final, com o maior carinho! Afinal, Deus não nos criou, homem e mulher, para viver no Paraíso?

quinta-feira, 17 de março de 2011

“MENINO, SE FIZER ARTE, VAI FICAR DE CASTIGO”


Todos nós, mais antigos, ou ouvimos ou dissemos isso milhares de vezes. Em nosso vocabulário, o primeiro conceito que apreendemos é o de que FAZER ARTE é fazer besteira, praticar alguma traquinagem. Ou seja, em Português, começa tudo errado. No dicionário, arteiro é aquele que faz “arte”, é quem revela arte em astúcia, velhacaria... Triste começo no aprendizado de conceitos.
Em Inglês, a palavra mais usada para travessura, brincadeira de mau gosto é mischief, sem relacionar-se com a palavra que significava, no sânscrito, capacidade de dominar a matéria, moldar, ajustar, enfim, uma atividade transformadora realizada pelo homem. No latim, ARS tinha a ver com técnica, habilidade adquirida em exercício paciente e voltado para um fim definido, fosse estético, ético ou utilitário.
No idioma francês, também não vi nenhuma ligação; praticar uma travessura é “faire de siennes”. Arte é uma coisa bem vista, prazerosa, como se vê da expressão “faire quelque chose pour l’amour de l’art. Isso quer dizer que fazer uma coisa com prazer pode ser verbalizada com a palavra “arte”. Rosa foi fundamental nessa conversa sobre a palavra em francês e, direto de Paris, deu-me todas as dicas, Aprendi muito. Foi tão gentil que, para mostrar como se diz algo do tipo “como manda o figurino”, usou,como exemplo a frase: - Ana nos recebeu para jantar “dans les règles de l’art”.
O uso da palavra que mais gostei foi na expressão “l’enfance de l’art”. Refere-se a uma coisa elementar, fácil, algo como se a dizer “é uma brincadeira de criança”. Seria o lúdico que não deveríamos perder quando queremos nos expressar artisticamente, ou essa liberdade tão necessária à criação que a infância tem em abundância? Quem sabe quer lembrar a magia inerente à arte e que povoa o mundo infantil de forma tão intensa?
Adorei o ensaio com que Frederico Morais abre seu livro “A Arte é o que eu e você chamamos de Arte”. Sabemos que ela é um mistério, e por isso tantos falam nela... Não se conseguiu, porém, uma definição que possa traduzi-la por inteiro. Nem pensar em unanimidade, que é burra, como acertadamente dizia Nelson Rodrigues, quando se trata de avaliar uma obra como “boa” arte ou arte “ruim”.
Eu concordo com Marcel Duchamps – “A arte pode ser ruim, boa ou indiferente, mas qualquer que seja o adjetivo empregado,temos que chamá-la de arte. A arte ruim é arte, do mesmo modo que uma emoção ruim é uma emoção.” Posso, então, ficar mais animada e continuar com meus escritos, e até mesmo mostrar ao mundo as instalações que imaginei e que Emidio tão artisticamente tornou reais, através do milagre que Derain afirmava ser necessário, já que, para a Arte, não bastam as idéias,
Oscar Wilde, de quem sou fã, considerava os artistas mentirosos profissionais, e que jamais podemos acreditar no que dizem. Precisamos, sim, olhar sua arte para sabê-los. E Picasso tinha certeza de que a Arte não é a Verdade, mas a mentira que nos ajuda a compreendê-la ... pelo menos, aquela que somos capazes de entender. E Nietzsche encerrou o assunto dizendo que temos a Arte para não morrer da Verdade.
Na mesma linha, Umberto Eco, sempre brilhante, ensinou que toda obra de arte, mesmo enquanto pronta, é “aberta”, pois será interpretada das mais diferentes maneiras, embora não corra o risco de ver alterada sua irredutível singularidade. Veremos, então, a tal verdade a que Picasso se referiu?
Amédée Ozenfant, pintor cubista francês, afirmou que “A arte demonstra que o ordinário é extraordinário”. E é essa a alquimia do artista, transformando metais inferiores no mais puro metal Em crônica sobre a Beleza, comentei que Chico Buarque usava as mais simples e cotidianas palavras de nossa língua para dizer, em suas maravilhosas músicas, que alguém morreu na contramão atrapalhando o tráfego, para falar do feijão que ela faz todo dia sempre igual, da gente humilde com cadeiras na calçada... É, sem dúvida, um dos nossos maiores alquimistas.
Pergunta importante: onde deve estar a Arte? Lebel afirmou que deveria, literalmente, descer à rua, sair do zôo cultural, concordando com Vlaminck, que tinha horror ao odor e à monotonia dos museus, Camnitezer respondeu com veemência – “O fato de estar na rua não faz a obra mais democrática, ao contrário, pode aumentar o caráter autoritário de seu discursos”. E como fico eu no meio desse tiroteio? Já não sei se viro uma grafiteira marginal, se me tranco na Academia Brasileira de Letrinhas...
Fico profundamente feliz com os emails que recebo de meus fiéis leitores que, com o maior carinho, fazem com que eu continue com vontade de escrever. Comentam o tema que abordei, contam casos parecidos, elogiam, enfim, respondem ao estímulo que pretendo passar com meus textos. Toda obra de arte é feita duas vezes, uma pelo artista, quando a cria, e outra pelo espectador, quando a observa e absorve, transformando, dentro dele, as sensações despertadas.
Goethe, outro dos meus ídolos, acreditava que existem três tipos de leitores: o primeiro goza sem julgar; o segundo julga sem gozar, e o terceiro julga gozando ou goza julgando e é justamente esse quem recria a arte. Só não quero um tipo que julgue “me” gozando.
Salvador Dali, para mim, fez as duas “artes” – traquinagem e arte no sentido que o mundo dá à palavra. Pelo menos, era muito arteiro e levado quando abria a boca. Chegou a dizer que, quando pintava, fazia ouro, pois cada quadro dele produzia um polpudo cheque que era logo convertido no metal nobre. Dizia, ainda, que seu exibicionismo mascarava sua verdadeira personalidade – ao atrair olhares, com seu dandismo provocante, fugia desses mesmos olhares, mostrando-se exatamente como não seria.
Ben Vautier adora polemizar, com suas pinturas-textos e instalações. Atira frases do tipo “A arte é inútil”, “Tudo é arte. Nada é arte”. Pois é... tudo e nada. Nem os gênios conseguem traduzi-la? Não faz mal. A Arte não precisa ser dita. Precisa ser sentida.
Depois dessas elucubrações todas, minhas e de tantos outros, decidi seguir o conselho de Sócrates, que dizia que a Arte é longa e a Vida é curta. Vou deixar viver, com muita liberdade e para o sempre que for possível, a menina levada que existe aqui dentro, que quer ”pintar o bordar” de todos os jeitos que a vida permitir. E vou adorar ouvir que ficarei de castigo se insistir em fazer arte.

domingo, 13 de março de 2011

AH! A COR DE SEUS OLHOS!!!


Nunca disseram isso para mim... também, pudera!. Com olhos da cor de burro quando foge, o que poderia esperar? Por sorte, chegaram a dizer que a luz deles era especial. Um consolo por não ter olhos cor violeta como Liz Taylor. Nem a cor dos olhos, nem a beleza da pele, do rosto, dos dentes... Todos conhecem bem aquela definição para pessoas não tão dotadas em termos de beleza - tão simpática! Tampouco nasci com os olhos cor de mel da Rapunzel. Bem, essa história de cores rende boas conversas!
Minha guerra colorida começou há dez anos, quando comprei o apartamento e quis pintar uma parede de vermelho/vinho. Toda feliz, encontrei o tom perfeito em uma tabela de cores dessas que as indústrias disponibilizam; pedi ao César, excelente profissional da pintura, que desse a primeira mão para testarmos. Tive um ataque de riso quando o vinho que esperava apresentou-se, acreditem, cor de abóbora! Lembrava um bordel de beira de estrada! Juro que nunca entrei em estabelecimento congênere, mas vi em filmes mexicanos. Pedi que suspendesse a pintura que ele tampouco havia gostado, pois tinha achado uma cor muito “sensual”. Isso confirmou minha sensação de que bem poderia fingir estar numa casa de tolerância em plena Lagoa Rodrigo de Freitas.
Virei Ana Palmeirão, “prima” da Rosa Palmeirão, vivida por Luiza Thomé na novela da Globo exibida na época, “Porto dos Milagres”. Ela tinha um “centro de lazer noturno”, e as paredes, por certo, deveriam ser da cor que encontrei nas minhas. Como meu anjo da guarda não dorme em serviço, consegui realizar, dias depois, meu sonho de consumo com o vermelho/vinho da marca International, tintas que, infelizmente, não são mais fabricadas.
Agora, precisei de nova pintura na casa, e o drama recomeçou. Olhei vários mostruários e escolhi as duas cores que mais gostei, bem próximas às originais, uma para a tal parede escandalosa e outra para o resto da casa. Podem acreditar: nenhuma das duas funcionou. Essa tecnologia moderna, para mim, não serve. A máquina/computador mistura a cor e pronto! Tudo errado! E uma delas me faz parecer ridícula... em vez do salmão claro escolhido, ficou tudo simplesmente cor-de-rosa! Voltei à primeira juventude... pink na casa toda! Decidi abandonar a luta e deixar assim mesmo... provavelmente, minhas netas caçulas vão adorar! Daqui a dez anos, quem sabe eu consigo o que desejo?
Curiosa, fui ler sobre as cores. Diverti-me horrores “aprendendo” que cor é a percepção visual provocada pela ação de um feixe de fotos sobre células especializadas da retina, que transmite impressões para o sistema nervoso, através de informação já processada no nervo ótimo. Para complicar mais, descobri que a cor de um objeto é comandada pelas médias de frequência dos pacotes de onda que as moléculas que o constituem reflete. A coisa terá, então, uma determinada cor quando não absorver, justamente, os raios correspondentes à frequência daquela cor que exibe. Poucas vezes me senti com o Q.I tão parecido com o de uma ameba burra! Será, então, que o alimento não terá gosto de maionese se absorver a “freqüência” da maionese? Para lembrar tal gosto, precisa absorver outros sabores e rejeitar justamente o que deseja ter? Melhor nem tentar entender.
As cores também são “traduzidas”, e culturas distintas vão atribuir significados diferentes para cada cor. O vermelho, por exemplo, foi muito usado pelos romanos, pelos nazistas e pelos comunistas. Hoje em dia, todo fast-food que se preze apela para a cor do sangue, que provoca sempre uma reação nas pessoas. Pode ser, dependendo do olhar, um sinal de paixão, de energia, de amor, de alegria... mas também de perigo, raiva, fogo, revolução... Como sempre, o que vale é a versão, e eu fico com a primeira.
Enquanto isso, o branco lembra a paz, o verde, a natureza; o azul nos leva a pensar em harmonia, o preto, em sofisticação (nosso pretinho básico), mas também em luto... E por aí vai.
Uma das coisas mais bonitas que vi sobre o tema foi o livro Flicts, do nosso brilhante Ziraldo. Nele, temos as cores que todos amam e uma menos querida. Como acontece com as pessoas... Quem não leu, perdeu; mas ainda dá tempo! Compre para um filho, ou neto, afilhado ou sobrinho. Ou para você mesmo,sem precisar disfarçar!
Nas flores, a natureza explode em cores inimagináveis. Nas borboletas, também. Mesmo quando a flor é branca, sua beleza não tem medida. Quem nunca se imaginou dando uma grande festa num salão inteiramente decorado com flores brancas? E um buquê de noiva de rosas vermelho-sangue? E as maravilhosas orquídeas que os jovens costumavam oferecer às moças que os acompanhariam aos bailes? Flores nos fazem sonhar...
O homem, desde que começou a se entender por gente, quis reproduzir o mundo que via e também o que imaginava. E sempre em cores! As pinturas nas cavernas de Lascaux, na França, datam, segundo especialistas, de mais de 17 mil anos. Só conseguiam usar o marrom, o vermelho e o amarelo, pigmentos de origem mineral, mas o resultado final é extraordinário. Pensava que o vermelho sempre era obtido com o sangue de animais... lá, em Lascaux, essa cor vinha das hematitas, tão comuns aqui em nossas Minas Gerais. Na Grécia antiga, o preto, o branco, o vermelho e o amarelo eram as cores usadas pelos artistas. Se pudessem entrar numa máquina do tempo e visitar uma loja do tipo da Pearl, em Nova York, não iam acreditar na infinidade de tons que estão, agora, à disposição dos pintores.
As cores são a matéria fundamental da pintura, e os artistas fazem milagres. “Pintam e bordam”, dão forma, conseguem nos enganar aliando-as a truques de perspectiva; enfim, conseguem provocar sensações das mais diversas em todos nós. As cores dos trópicos em Gauguin, torturadas em Van Gogh, suaves em Fragonard, um dos grandes do Rococó, enfim, infinitas as nuances que esses mestres conseguiram mostrar em suas telas.
E como falei em telas, pintores e cores, vou encerrar xom a música Aquarela de Toquinho, quando diz que “nessa estrada não nos cabe conhecer ou ver o que virá, o fim dela ninguém sabe bem ao certo onde vai dar. Vamos todos numa linda passarela de uma aquarela que, um dia, enfim, descolorirá”. Enquanto não descolorir, quero a minha parede vermelho/vinho de novo, e pretendo me acostumar com as outras que ficaram rosadas; na verdade, mesmo que seja com olhos da cor mais sem graça do mundo, a de burro quando foge, quero ver todas as cores do mundo!

segunda-feira, 7 de março de 2011

AINDA OS BANCOS

Parece mentira, mas não tem uma vez que as coisas transcorram tranquilamente... Ontem, deixei a bolsa e a pasta 007 na costureira, decidida a não me aborrecer mais uma vez, e fui ao banco pagar o IPVA apenas com a carteira na mão (o que é um perigo no Centro do Rio) e o celular escondido no soutien.
Uma segunda-feira... a fila era enorme, mesmo a de velhinhos. Enquanto conversava com mais três seniors, tive a sensação de que não saíamos do lugar. Ao perceber que a pessoa na boca do caixa era uma jovem de cerca de 20 anos, perguntei à funcionária a razão daquilo numa fila preferencial - ela não estava grávida, não era deficiente física, nem levava um bebê no colo. A própria mocinha virou-se e, na maior cara de pau, disse que havia pedido ao vovô que ia ser atendido que a deixasse passar na frente, pois ela estava com muita pressa. É claro que o velhinho, sentindo-se um galã, cedeu-lhe a vez.
Todos já imaginam que não consegui ficar calada. Perguntei à moça se ela não tinha vergonha do que tinha feito e, sem esperar a resposta, disse ao vovô seduzido que, caso realmente quisesse fazer charme para a mocinha, teria que ter saído da fila e ido lá para o final, jamais encaixando alguém à frente. Disse-lhe que a alternativa seria perguntar se todos atrás dele concordavam com a colher de chá que queria dar. Colher de sopa, na verdade, pois a fila era imensa. Ele se desculpou, constrangido, mas a mocinha nem se abalou... E, acredito eu, a maioria dos jovens que ouviram a história devem ter imaginado que a velhinha ranzinha aqui teria reagido por inveja à beleza e ao frescor da juventude perdidos há tempos. Quem me conhece bem sabe que não foi por causa disso... Continuo priorizando o respeito ao outro, em qualquer situação. Resumo da ópera: não dou uma dentro quando lido com instituições bancárias.
Meus fiéis leitores responderam à primeira crônica contando suas experiências e histórias com pessoas próximas. Impressionante como é comum esse desconforto, e vi que não sou a única com cara de meliante... metade do planeta me acompanha. Marília, que se confessa pessoa de pavio curtíssimo, certa vez “derramou” o conteúdo de sua bolsa no chão, dentro da porta giratória, quando o vigilante insistiu que certamente ainda haveria algo de metal na bolsa dela. Ao ficar comprovado que, de metálico, não havia sequer um grampo, o rapaz respondeu que, provavelmente, o que ainda fazia o sensor apitar seriam as embalagens metalizadas de seus remédios! Vamos rir ou chorar?
Jane contou que a filha também ficou presa na porta... Estudante de Direito, preparou uma carta ressaltando o absurdo, carta essa que surtiu efeito - dois gerentes foram visitá-la em casa, desculpando-se em nome do banco. Imaginem a loucura... foram visitá-la! O problema é que outros tantos cidadãos continuam passando pelo mesmo drama e ninguém pede desculpas ou tenta resolver o problema..
Rosa, ainda em sua temporada anual em Paris, contou-me que a aventura bancária dela foi, recentemente, diferente. Os bancos franceses parecem não gostar de dinheiro vivo. Explicando melhor – não conseguiu trocar uma nota de 500 euros nem mesmo na agência onde tem conta desde os anos oitenta! Os funcionários simplesmente instruíam-na a depositá-la em vez de fazer uma troca. Olhavam-na como se tivesse saído de um covil de falsários... Como é cliente do banco, caso a nota fosse falsa, poderiam se compensar retirando da conta dela o valor correspondente... Tudo em vão - não conseguiu convencê-los e acabou dando outro jeito. O drama é planetário.
Existem leis que obrigam as instituições a instalarem sistemas avançados de segurança. Em 2007, os bancos investiram um total de 7 bilhões de reais nisso. Acho que esse valor não fez cócegas no orçamento deles, que beiram os 800 no país; em 2010, apenas os três que mais lucraram conseguiram, juntos, alcançar a astronômica cifra de 20 bilhões de reais! O que melhores resultados obteve foi justamente aquele onde enfrentei o problema que relato no início dessa crônica, e acaba de anunciar que seu lucro foi o maior de toda a história dos bancos no Brasil! Estou na dúvida se devo parabenizá-lo por isso.
Nos Estados Unidos, os três maiores lucraram 40 bi, isso em dólares. De certa forma, se a análise levar em conta o tamanho da economia dos dois países, estou certa de que, relativamente, a atividade foi mais lucrativa aqui abaixo do Equador. Parece que o Well Fargo foi o segundo com melhor desempenho, e tenho a certeza de que isso se deu com a ajuda dos 40 dólares que deixei depositados na minha conta corrente por lá...
Na busca de dados sobre os estabelecimentos bancários nos Estados Unidos, deparei-me com o número assustador dos que pediram falência desde a recente crise econômica. Do total de 8430, mais de 300 não tinham mais como continuar, e são, ainda, mais de 800 em situação periclitante. Entendo que o tal lucro de 40 bilhões de dólares para tantas instituições financeiras contra os 20 bi divididos entre nossos oitocentos bancos não é nada demais.
A dúvida que me assalta (sem trocadilhos) nos momentos em que fico impedida de entrar no banco é se essa parafernália toda realmente faz diferença no que tange à segurança dos estabelecimentos. No Brasil, tivemos, no ano 2000, quase mil e novecentos assaltos. Com o tempo, as estatísticas foram baixando de forma expressiva e, no ano passado, foram 337. Fazendo continhas – menos de um assalto para cada dois bancos.
Nos Estados Unidos, em 2007, foram mais de 9.000 mil assaltos. Como são menos de 8.500 bancos, vamos dizer que, grosso modo, a média seria um pouquinho mais de um assalto por cada instituição. Na minha agência do Wells Fargo, levo o que quiser na minha bolsa, não tem porta que apita, enfim, nada... Mas tem mais assaltos! E isso começou nos tempos dos mocinhos e bandidos, das diligências, tudo retratado nos filmes com John Wayne.
O maior assalto a banco da história foi registrado no Iraque, em 2003. Aproveitando o principal bombardeio americano no Iraque, a quadrilha fugiu com quase um milhão de dólares. Em outra pesquisa, o número um teria sido na Inglaterra, em 1987. No Brasil, o “vencedor” aconteceu no Ceará.
Nunca se sabe se a ficção imita a realidade, ou se a realidade copia Hollywood. Em 2005, uma falsa empresa de colocação de grama alugou uma casa em rua paralela ao Banco Central, em Fortaleza. Durante três meses, cavaram um túnel para chegar ao objetivo final, usando uma Kombi com logotipo da empresa para levar a terra retirada do percurso que construíam até o cofre. Não levantaram suspeitas porque o veículo, todos os dias pela manhã, saía carregado com o que todos pensavam ser grama para colocar em jardins. Com esse ousado plano,apoderaram-se de mais de 150 milhões de reais. Não dizem que a vergonha está em roubar e não poder carregar? Pois é, essa turma não passou por essa “vergonha”- carregou o produto do assalto, que pesava nada mais, nada menos do que três toneladas!
E por ter sido um crime tão bem arquitetado, virou filme, com estréia prevista ainda para esse primeiro semestre de 2011. Elenco de primeira, conta com Cassius Gabus Mendes, Tonico Pereira e Lima Duarte que, por certo, não será o galã. Vai ser o Delegado...
Quando, recentemente, fui ver meu filho Mauricio, minha nora e minhas netas em São Paulo, empaquei também no sistema de segurança do Aeroporto Santos Dumont. E olhem que, quando aquele bip-bip antipático tocou, eu já tinha tirado as enormes argolas, a pulseira e o anel avantajados, enfim, tudo que pudesse atrapalhar. Qual foi a sorte? A funcionária, que sabe das coisas, foi logo avisando que meus saltos altíssimos (tipo 12 centímetros) levam, por dentro, um pino de metal. Fiquei descalça e, por certo, nada mais buzinou... Ou seja, a Cinderela aqui vai ter que comprar sapatinhos de cristal para não mais passar por essa coisa toda! Ou desfilar por aí da sandálias havaianas.
E como ainda estou com vontade de escrever, vou agora virar minha metralhadora giratória para os sistemas de segurança dos aeroportos, mais rígidos depois do 11 de setembro de 2001. Lembrei-me da reportagem do Fantástico e fui em busca de detalhes que pudessem ilustrar melhor a crônica. Foram oito os aeroportos pelos quais a réplica de uma AR-15 passou sem ser detectada, nem mesmo quando colocada na bagagem de mão do repórter. Inacreditável, não? Não sei bem qual foi a explicação da Infraero para o fato, mas considero isso indesculpável. .
Esbarrei na informação de que estão sendo fabricadas roupas íntimas que escondem as partes pudendas dos passageiros que precisam passar pelos mais de 400 scanners com Raio X instalados em muitos aeroportos americanos. São folhinhas de figueira metalizadas costuradas nas calcinhas, cuecas e soutiens e que protegem os viajantes da radiação e do olhar indiscreto do supervisor de segurança, que perde, assim, a oportunidade de se divertir... ou de se horrorizar!
E tem mais. Descobriram, ou foram geneticamente modificadas, não sei bem, algumas plantas que conseguem detectar a presença de bombas, e cujas sementes estarão no mercado em poucos anos. Os aeroportos serão ornamentados com bonitos vasos de plantas que estarão lá para substituir a tarefa dos animais, cujo faro é utilizado com muito sucesso. Será que os bancos vão aproveitar a idéia e acabar com as malditas portas giratórias? Eu e a galera do Flamengo iríamos adorar.
Resumo da história – Não sou eu, com minha bolsa Guess cheia de argolas, a representante o perigo. Ficam controlando tanto os pobres correntistas, os velhinhos e velhinhas, aborrecendo-nos sobremaneira, e não é aquele sisteminha antipático que vai impedir um assalto de maior “substância”. É só ler mais um pouco sobre o assunto e ficará demonstrado que os mais espetaculares casos já registrados não começaram pela porta da frente. O drama é que os serviços de segurança não se convencem disso.
Não consegui ter certeza se, durante o período da ditadura aqui no Brasil, nossa atual governante participou realmente de assaltos a bancos – há controvérsias. Há quem diga que atuou substancialmente no assalto à casa de uma amante do Ademar de Barros, onde havia um cofre com as “sobras” que o ele guardava de sua vida pública, cuja filosofia “rouba, mas faz” era conhecida de todos. Será que foi com esse dinheiro que ela fez as plásticas todas para ficar mais bonitinha durante a campanha? Brincadeiras à parte, não quero mais falar de bancos e portas giratórias, pois tem muita coisa boa por aí para eu continuar dando palpite. E ninguém perde por esperar.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

VOVÓ DO PÓ
Ana Hertz


Em julho de 2010, a Polícia Civil inaugurou uma Delegacia do Idoso em Copacabana, bairro que concentra muitos velhinhos do Rio de Janeiro pois, além da famosa praia, ali tudo o que nós precisamos no nosso dia-a-dia. Preocupados com aumento do número de assaltos aos vovôs e vovós daquela área, sobretudo quando saem dos bancos, as autoridades já tinha preparado, na 12ª. DP, um curso de defesa pessoal para os seniors. Por sermos mais frágeis, os meliantes têm grande facilidade em nos dominar. Tenho a maior curiosidade em saber se o curso continua existindo e se a procura tem sido grande. E eu, por causa dessa história toda, estou com vontade de dar um pulo até lá, não para aprender como devo sair dos bancos de maneira segura, mas simplesmente para pedir dicas para conseguir fazer justamente o contrário – quero entrar neles!.
Mesmo que alguns possam duvidar, sou uma pessoa com um razoável estoque de paciência. Embora só ocorrendo uma vez por década, o problema é que vou do oito ou oitenta em questão de segundos... Como já disse, é raro acontecer e, mesmo que ninguém precise ficar muito preocupado com tal possibilidade, confesso-me pronta a virar um monstro furioso, tanto por um aparente “quase nada”, como por uma questão da maior importância,.
Na verdade, o que tem me levado à loucura nos últimos tempos é o sistema de segurança instalado nas portas dos bancos do Rio de Janeiro. Não tem uma vez sequer que eu consiga entrar sem que tenha, praticamente, que tirar a roupa. Uma vez, mesmo depois de tirar tudo, literalmente tudo, de dentro da bolsa, não me deixaram entrar. Como era uma bolsa Guess, com algumas ferragens de enfeites, imaginei que a quantidade de metal fosse o problema. Sugeri, então, deixar a bolsa vazia do lado de fora, com a funcionária que instruía os clientes junto aos caixas eletrônicos, para que pudesse entrar e fazer o pagamento que precisava. Não fui autorizada a deixar a bolsa com alguém do estabelecimento ... regras do banco. Resumo da ópera - não consegui entrar naquela agência do Banco Itaú da Av. Rio Branco. Fiquei furiosa, é claro, e saí andando, sem saber o que fazer. O mencionado pagamento indicava, com exclusividade, as agências daquele banco. Na esquina da Rua São José, encontrei outra agência deles. Entrei sem que fosse preciso tirar da bolsa algo além do celular. Ou seja, a mesma instituição tem sistemas diferentes.
Isso vem se repetindo todas as vezes que preciso ir pessoalmente fazer alguma transação. É claro que existem outros meios de fazer muitas coisas nos bancos 24 horas, ou pelo telefone ou, ainda, utilizando o sistema online. Mas, repito, algumas vezes não há como evitar, e é nessas horas que eu enlouqueço. Pode ser que eu seja meio perua e ande com cordões, brincos, anéis, relógios e pulseiras em excesso, tudo ao mesmo tempo, e traga, na bolsa, a carteira de metal onde guardo cartões de crédito, dois celulares, guarda-chuva, escova de cabelo também de metal.... Embora tudo isso seja retirado e colocado naquele compartimento salvador, o danado do dispositivo continua “detectando” alguma coisa perigosíssima em meu poder. Quem sabe uma AR-15?
Por mais incrível que pareça, nas duas últimas vezes em que isso ocorreu foi, justamente, na minha própria agência do Banco do Brasil. Mostrei o cartão magnético do banco, onde se lê o número da agência e o meu nome, mostrei minha identidade... nada! Foi necessário que um dos vigilantes subisse à sobreloja para chamar um dos gerentes. Qualquer pessoa medianamente sensata pode avaliar a minha vontade de matar dez. Não poderia desistir porque tinha que resolver o problema de uns honorários recebidos do exterior.
Houve, eu sei, um acentuado aumento das estatísticas no que se refere à criminalidade feminina. Antes, a gente nunca desconfiaria de um casal que se aproximasse, ou de uma ou duas mulheres juntas... agora, infelizmente, não podemos nos descuidar. Pelo que andei lendo, a maioria das criminosas entra no crime para acobertar o marido, o companheiro, ou filhos, não sendo frequente, pelo que parece, uma iniciativa pessoal. Em geral, o delito é por tráfico, e são muitas as que são apanhadas quando levam drogas para dentro do presídio, na hora da visita àquele que está lá dentro. Ficam os dois, então. É bem menor o número de condenadas por latrocínio ou homicídio, crimes mais cometidos pelos homens, embora isso não queira dizer que não tenhamos, entre nós, mulheres, algumas que ficaram até mesmo na história pelo que andaram aprontando.
Quando penso em mulher delinquente, no Brasil, lembro-me logo da Lili Carabina, imortalizada nas telas por Betty Faria. Djanira, seu nome verdadeiro, deu um trabalho danado à polícia nos anos 70. Usava uma peruca loura para seduzir todo mundo (Ah! As louras, sempre as louras!). Suas penas, somadas, ultrapassavam 100 anos... e incluíam condenações por homicídio, latrocínio, assaltos, tráfico de drogas, e mais outras coisas bastante assustadoras. Na última fuga da cadeia, levou tiros na cabeça e ficou com um dos lados do corpo prejudicado. Morreu um ano e pouco depois de liberada, dizendo-se arrependida e uma interessada estudiosa da Bíblia. Para confirmar o que comentei antes, seu primeiro crime foi matar os dois assassinos de seu companheiro... que era traficante!
Hollywood também produziu um célebre filme sobre uma das mais famosas criminosas americanas, a Bonnie, aquela do Clyde. O casal morreu em 1934, depois de três anos e pouco de muita encrenca no tempo da Grande Depressão. Muitos experts dizem que ela, na verdade, nunca disparou um só tiro, e que foi seu sex-appeal como amante de um bandido considerado menor que acabou fazendo com que o mito superasse a realidade, e a caça aos dois tenha ocasionado umas tantas mortes desnecessárias. Nunca vamos saber de tudo.
Essa história toda é para dizer que, com a fértil imaginação que me é característica, concluí que não consigo entrar nos bancos porque lembro alguma criminosa famosa... Quem sabe sou parecida com a Betty Faria de 1989, quando filmou a Lili Carabina? Ou a Faye Dunaway, em 1967, fazendo par com Warren Beatty, o Clyde da telona? O drama é que logo caio na real, conscientizo-me da minha faixa etária e chego à conclusão que a televisão deve ter mostrado alguma assaltante idosa, uma daquelas chamadas de Vovó do Pó, e estão me confundido com a tal zinha. Só pode ser, pois não há explicação lógica para essa dificuldade em entrar no banco.
E se eles acham que sou uma velhinha meliante, e que estou ali para assaltá-los, o que supõem que eu esteja querendo comprar com o dinheiro eventualmente apurado? Será que descobriram que meu sonho de consumo é comprar uma garrafa de champagne Arman de Brignac, que custa a bagatela de R$2.200,00 nas boas delicatessens do Brasil? Aquela linda garrafa dourada que combina com meu lado perua, cujo sabor tem que ser uma maravilha... por esse preço! Ou por que desejo investir uns R$30.000,00 em uma garrafa da melhor safra do Chateau Mar Gaux? Pois é... se continuam me impedindo de acessar minha conta bancária, não poderei atender meus desejos mais profundos. E onde fica minha liberdade de ir e vir, direito garantida pelo artigo 5º, da Constituição Brasileira?
Mesmo não tendo o tal perfil da maioria das criminosas, pois não tenho marido, companheiro ou parente envolvido em crimes, não me deixam entrar com facilidade. E, embora sempre sofra para entrar no meu própria agência, tapetes vermelhos são estendidos, portas são escancaradas e a imprensa toda vai prestigiar aqueles que, sem o menor pudor, tiram o dinheiro do povo. Entram em qualquer lugar sob uma chuva de aplausos...
É por isso que permaneço com sérias dúvidas se há mesmo necessidade de treinar os velhinhos para se livrarem dos bandidos nas saídas dos bancos. Caso os sistemas de segurança continuem a ser do jeito que são, nós, da terceira idade, cidadãos honrados, vamos acabar não conseguindo entrar neles sequer para sacar nossas minguadas aposentadorias.... O bom é que, não estaremos correndo risco algum de sermos assaltados. E eu, que devo ter a cara da “Vovó do Pó”, não vou conseguir pegar dinheiro para pagar meu IPVA que vence semana que vem! Tem alguém
aí que possa me ajudar?