segunda-feira, 7 de março de 2011

AINDA OS BANCOS

Parece mentira, mas não tem uma vez que as coisas transcorram tranquilamente... Ontem, deixei a bolsa e a pasta 007 na costureira, decidida a não me aborrecer mais uma vez, e fui ao banco pagar o IPVA apenas com a carteira na mão (o que é um perigo no Centro do Rio) e o celular escondido no soutien.
Uma segunda-feira... a fila era enorme, mesmo a de velhinhos. Enquanto conversava com mais três seniors, tive a sensação de que não saíamos do lugar. Ao perceber que a pessoa na boca do caixa era uma jovem de cerca de 20 anos, perguntei à funcionária a razão daquilo numa fila preferencial - ela não estava grávida, não era deficiente física, nem levava um bebê no colo. A própria mocinha virou-se e, na maior cara de pau, disse que havia pedido ao vovô que ia ser atendido que a deixasse passar na frente, pois ela estava com muita pressa. É claro que o velhinho, sentindo-se um galã, cedeu-lhe a vez.
Todos já imaginam que não consegui ficar calada. Perguntei à moça se ela não tinha vergonha do que tinha feito e, sem esperar a resposta, disse ao vovô seduzido que, caso realmente quisesse fazer charme para a mocinha, teria que ter saído da fila e ido lá para o final, jamais encaixando alguém à frente. Disse-lhe que a alternativa seria perguntar se todos atrás dele concordavam com a colher de chá que queria dar. Colher de sopa, na verdade, pois a fila era imensa. Ele se desculpou, constrangido, mas a mocinha nem se abalou... E, acredito eu, a maioria dos jovens que ouviram a história devem ter imaginado que a velhinha ranzinha aqui teria reagido por inveja à beleza e ao frescor da juventude perdidos há tempos. Quem me conhece bem sabe que não foi por causa disso... Continuo priorizando o respeito ao outro, em qualquer situação. Resumo da ópera: não dou uma dentro quando lido com instituições bancárias.
Meus fiéis leitores responderam à primeira crônica contando suas experiências e histórias com pessoas próximas. Impressionante como é comum esse desconforto, e vi que não sou a única com cara de meliante... metade do planeta me acompanha. Marília, que se confessa pessoa de pavio curtíssimo, certa vez “derramou” o conteúdo de sua bolsa no chão, dentro da porta giratória, quando o vigilante insistiu que certamente ainda haveria algo de metal na bolsa dela. Ao ficar comprovado que, de metálico, não havia sequer um grampo, o rapaz respondeu que, provavelmente, o que ainda fazia o sensor apitar seriam as embalagens metalizadas de seus remédios! Vamos rir ou chorar?
Jane contou que a filha também ficou presa na porta... Estudante de Direito, preparou uma carta ressaltando o absurdo, carta essa que surtiu efeito - dois gerentes foram visitá-la em casa, desculpando-se em nome do banco. Imaginem a loucura... foram visitá-la! O problema é que outros tantos cidadãos continuam passando pelo mesmo drama e ninguém pede desculpas ou tenta resolver o problema..
Rosa, ainda em sua temporada anual em Paris, contou-me que a aventura bancária dela foi, recentemente, diferente. Os bancos franceses parecem não gostar de dinheiro vivo. Explicando melhor – não conseguiu trocar uma nota de 500 euros nem mesmo na agência onde tem conta desde os anos oitenta! Os funcionários simplesmente instruíam-na a depositá-la em vez de fazer uma troca. Olhavam-na como se tivesse saído de um covil de falsários... Como é cliente do banco, caso a nota fosse falsa, poderiam se compensar retirando da conta dela o valor correspondente... Tudo em vão - não conseguiu convencê-los e acabou dando outro jeito. O drama é planetário.
Existem leis que obrigam as instituições a instalarem sistemas avançados de segurança. Em 2007, os bancos investiram um total de 7 bilhões de reais nisso. Acho que esse valor não fez cócegas no orçamento deles, que beiram os 800 no país; em 2010, apenas os três que mais lucraram conseguiram, juntos, alcançar a astronômica cifra de 20 bilhões de reais! O que melhores resultados obteve foi justamente aquele onde enfrentei o problema que relato no início dessa crônica, e acaba de anunciar que seu lucro foi o maior de toda a história dos bancos no Brasil! Estou na dúvida se devo parabenizá-lo por isso.
Nos Estados Unidos, os três maiores lucraram 40 bi, isso em dólares. De certa forma, se a análise levar em conta o tamanho da economia dos dois países, estou certa de que, relativamente, a atividade foi mais lucrativa aqui abaixo do Equador. Parece que o Well Fargo foi o segundo com melhor desempenho, e tenho a certeza de que isso se deu com a ajuda dos 40 dólares que deixei depositados na minha conta corrente por lá...
Na busca de dados sobre os estabelecimentos bancários nos Estados Unidos, deparei-me com o número assustador dos que pediram falência desde a recente crise econômica. Do total de 8430, mais de 300 não tinham mais como continuar, e são, ainda, mais de 800 em situação periclitante. Entendo que o tal lucro de 40 bilhões de dólares para tantas instituições financeiras contra os 20 bi divididos entre nossos oitocentos bancos não é nada demais.
A dúvida que me assalta (sem trocadilhos) nos momentos em que fico impedida de entrar no banco é se essa parafernália toda realmente faz diferença no que tange à segurança dos estabelecimentos. No Brasil, tivemos, no ano 2000, quase mil e novecentos assaltos. Com o tempo, as estatísticas foram baixando de forma expressiva e, no ano passado, foram 337. Fazendo continhas – menos de um assalto para cada dois bancos.
Nos Estados Unidos, em 2007, foram mais de 9.000 mil assaltos. Como são menos de 8.500 bancos, vamos dizer que, grosso modo, a média seria um pouquinho mais de um assalto por cada instituição. Na minha agência do Wells Fargo, levo o que quiser na minha bolsa, não tem porta que apita, enfim, nada... Mas tem mais assaltos! E isso começou nos tempos dos mocinhos e bandidos, das diligências, tudo retratado nos filmes com John Wayne.
O maior assalto a banco da história foi registrado no Iraque, em 2003. Aproveitando o principal bombardeio americano no Iraque, a quadrilha fugiu com quase um milhão de dólares. Em outra pesquisa, o número um teria sido na Inglaterra, em 1987. No Brasil, o “vencedor” aconteceu no Ceará.
Nunca se sabe se a ficção imita a realidade, ou se a realidade copia Hollywood. Em 2005, uma falsa empresa de colocação de grama alugou uma casa em rua paralela ao Banco Central, em Fortaleza. Durante três meses, cavaram um túnel para chegar ao objetivo final, usando uma Kombi com logotipo da empresa para levar a terra retirada do percurso que construíam até o cofre. Não levantaram suspeitas porque o veículo, todos os dias pela manhã, saía carregado com o que todos pensavam ser grama para colocar em jardins. Com esse ousado plano,apoderaram-se de mais de 150 milhões de reais. Não dizem que a vergonha está em roubar e não poder carregar? Pois é, essa turma não passou por essa “vergonha”- carregou o produto do assalto, que pesava nada mais, nada menos do que três toneladas!
E por ter sido um crime tão bem arquitetado, virou filme, com estréia prevista ainda para esse primeiro semestre de 2011. Elenco de primeira, conta com Cassius Gabus Mendes, Tonico Pereira e Lima Duarte que, por certo, não será o galã. Vai ser o Delegado...
Quando, recentemente, fui ver meu filho Mauricio, minha nora e minhas netas em São Paulo, empaquei também no sistema de segurança do Aeroporto Santos Dumont. E olhem que, quando aquele bip-bip antipático tocou, eu já tinha tirado as enormes argolas, a pulseira e o anel avantajados, enfim, tudo que pudesse atrapalhar. Qual foi a sorte? A funcionária, que sabe das coisas, foi logo avisando que meus saltos altíssimos (tipo 12 centímetros) levam, por dentro, um pino de metal. Fiquei descalça e, por certo, nada mais buzinou... Ou seja, a Cinderela aqui vai ter que comprar sapatinhos de cristal para não mais passar por essa coisa toda! Ou desfilar por aí da sandálias havaianas.
E como ainda estou com vontade de escrever, vou agora virar minha metralhadora giratória para os sistemas de segurança dos aeroportos, mais rígidos depois do 11 de setembro de 2001. Lembrei-me da reportagem do Fantástico e fui em busca de detalhes que pudessem ilustrar melhor a crônica. Foram oito os aeroportos pelos quais a réplica de uma AR-15 passou sem ser detectada, nem mesmo quando colocada na bagagem de mão do repórter. Inacreditável, não? Não sei bem qual foi a explicação da Infraero para o fato, mas considero isso indesculpável. .
Esbarrei na informação de que estão sendo fabricadas roupas íntimas que escondem as partes pudendas dos passageiros que precisam passar pelos mais de 400 scanners com Raio X instalados em muitos aeroportos americanos. São folhinhas de figueira metalizadas costuradas nas calcinhas, cuecas e soutiens e que protegem os viajantes da radiação e do olhar indiscreto do supervisor de segurança, que perde, assim, a oportunidade de se divertir... ou de se horrorizar!
E tem mais. Descobriram, ou foram geneticamente modificadas, não sei bem, algumas plantas que conseguem detectar a presença de bombas, e cujas sementes estarão no mercado em poucos anos. Os aeroportos serão ornamentados com bonitos vasos de plantas que estarão lá para substituir a tarefa dos animais, cujo faro é utilizado com muito sucesso. Será que os bancos vão aproveitar a idéia e acabar com as malditas portas giratórias? Eu e a galera do Flamengo iríamos adorar.
Resumo da história – Não sou eu, com minha bolsa Guess cheia de argolas, a representante o perigo. Ficam controlando tanto os pobres correntistas, os velhinhos e velhinhas, aborrecendo-nos sobremaneira, e não é aquele sisteminha antipático que vai impedir um assalto de maior “substância”. É só ler mais um pouco sobre o assunto e ficará demonstrado que os mais espetaculares casos já registrados não começaram pela porta da frente. O drama é que os serviços de segurança não se convencem disso.
Não consegui ter certeza se, durante o período da ditadura aqui no Brasil, nossa atual governante participou realmente de assaltos a bancos – há controvérsias. Há quem diga que atuou substancialmente no assalto à casa de uma amante do Ademar de Barros, onde havia um cofre com as “sobras” que o ele guardava de sua vida pública, cuja filosofia “rouba, mas faz” era conhecida de todos. Será que foi com esse dinheiro que ela fez as plásticas todas para ficar mais bonitinha durante a campanha? Brincadeiras à parte, não quero mais falar de bancos e portas giratórias, pois tem muita coisa boa por aí para eu continuar dando palpite. E ninguém perde por esperar.

2 comentários:

  1. Adorei seu blog.
    Tenho um também, chamado marca dágua e tb escrevo no Avental Eventual e no Marmita Filosófica ou Filosofia de Marmita.Mas ando completamente sem tempo.
    Sou sortudoa pois:
    1- meu banco é dentro da Prefeitura e todos me conhecem até pelo nome;
    2- O resto é na máquina mesmo (IPVA e IPTU inclusive) ou pela internet se vc tem uma senha bem louca e um bom antivirus/firewall.
    Mas a Vovó do Pó foi ótima e os bancos são mesmo um "sac"!
    As cronicas estão ótimas!
    Cadê o livro?
    beijos
    Elza

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  2. Mais uma aventura magnificamente relatada. adorei!

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