sábado, 17 de dezembro de 2011

ÀS ONZE, RODANDO BOLSINHA NA PRESIDENTE VARGAS

Dizem que, enquanto envelhecemos, vamos deixando pelo caminho a noção do ridículo, a consciência do que podemos ou não fazer, do que é apropriado em sociedade; enfim, parece que perdemos os limites e o senso crítico. Outro dia, peguei-me dizendo para um corretor que achava um absurdo o que a empresa dele estava fazendo, sem sequer usar meias palavras. Foi quando tive certeza de que cheguei, finalmente, à idade do “não estou nem aí para o que vão pensar”. Não há mais trava na língua... quando você vê, já disse... Não há trava em quase nada... quando se vê, está feito.
E deve ter sido essa falta de bom senso que me fez protagonista de uma das maiores imprudências que uma pessoa, qualquer que seja a idade, pode cometer. Simplesmente, enfrentei dois rapazes que queriam assaltar-me, na saída do metrô da Presidente Vargas.
O título dessa crônica é, como todos já perceberam, uma brincadeirinha, tipo manchete de jornal popular. Lembram-se do “Violada no palco”, quando Sergio Ricardo quebrou o violão no festival da Record em 67? Pois é, mas eu, literalmente, rodei bolsinha na Av. Presidente Vargas. Confesso que foi às 11 da manhã, e juro que não estava a oferecer meus favores...Também, quem ia querer ?
Acabara de jogar o celular na bolsa, já no último degrau da boca da estação, quando dei de cara com os jovens que, a poucos metros de mim, fizeram um sinal com as mãos que, sem deixar dúvidas, significava que eu tinha sido a “escolhida”. Não pensei duas vezes... nem uma só. Aproveitando-me da distância que nos separavam, peguei a bolsa que trazia nos ombros e comecei a rodá-la rapidamente, como se fosse uma funda. Eu era o próprio Davi contra Golias... E, como ele, venci os filisteus... os meus são cariocas. O corpo imitava movimentos que poderiam, muito de longe, é verdade, lembrar a ginga dos lutadores de capoeira. E os meliantes, na certeza de que a velhinha aqui é louca de pedra, deram meia trava. Enquanto olhavam, perplexos, aquela cena ridícula, o sinal fechou, oferecendo-me a oportunidade de atravessar a rua e buscar refúgio no estacionamento em frente.
Quando olhei para trás, já a salvo, vi que obrigavam uma jovem a abrir a bolsa e entregar o celular. Ela nem estava com o aparelho na mão, o que significa que estar ou não conversando ao telefone não faz qualquer diferença.
Sobre correr riscos quando não é realmente necessário, tenho profunda curiosidade para descobrir o que leva alguém a fazer alguma coisa cujos desdobramentos podem oferecer perigo. Jamais saltaria de asa delta da Pedra da Gávea, mesmo sabendo que o que se vê lá de cima é deslubrante, tampouco escalaria o Pão de Açúcar, ou seja, coisas do gênero não me atraem. Meu signo em Touro, com ascendente em Virgem, “obriga-me” a ficar com os pezinhos grudados no chão.
Por outro lado, o que seria de mim se Santos Dumond não tivesse voado no 14-Bis, mesmo podendo cair lá de cima e se arrebentar aqui no chão ? Estaria sentada nesta mesma cadeira, sem ter visto um centésimo do mundo maravilhoso que existe por aí. Isso sem falar em Colombo, em Cabral. Se não tivessem se mandado de lá, procurando o novo, apesar dos riscos que já sabiam existir além do horizonte azul, como estaria a vida nesse planeta? Se bem que há quem diga que estaria melhor...
E o que seria, também, de todos nós, se não ousássemos deixar um emprego chato e sair por aí procurando algo desafiador, se não nos aventurássemos em um novo relacionamento? Mas convenhamos, enfrentar dois assaltantes apenas rodando bolsinha é um pouco demais! A única certeza que tenho é que, em certos aspectos, tenho que tomar jeito e recuperar um pouco de juízo e de bom senso.