domingo, 3 de fevereiro de 2013


COM O LIMÃO, UMA LIMONADA.
Fevereiro de 2013

                  Eu prefiro a nova versão e desse limão fazer uma caipiroska!  Com esse espírito, fui para Orlando com Livia, minha filha,  Caio e Leticia, netos queridíssimos.  Ou seja, já levei o açúcar.  Dispensável dizer o que representaria o limão... e a vodka, boa bebida, seria a oportunidade para observar quem visita essa conhecida ilha da fantasia americana. Já estive na outra, em Las Vegas, e vi muitas semelhanças. 

                   Meu fascínio pelo comportamento humano me fez estar atenta a tudo e a todos nos parques da Disney e da Universal, mesmo perdida em um mar de gente.  Na Disney, passam em média 240 mil visitantes por dia, 30 milhões por ano! Na Universal, outros tantos.  O que os leva àqueles centros de entretenimento?  Frei Betto escreveu um texto muito interessante, “Passeio Socrático”, questionando o consumo excessivo, a busca incessante pela distração, pelo prazer, enfim, tudo o que encontramos em Orlando. Enquanto ele filosofava, eu passeava com o Mickey, o Homem Aranha, Capitão América...

                   Para entrar na montanha russa do Hulk, passeio que não dura mais que uns poucos minutos, eram quase 2 horas de espera!  Mesmo que uma pessoa não tenha um lado intelectual substancial, como se propõe a, de pé,  esperar todo esse tempo para andar numa geringonça que nos “ameaça” a integridade física o tempo todo?  Coloca os passageiros de cabeça para baixo, rodopia numa velocidade quase igual à da luz, com todos berrando sem parar e a adrenalina no mais alto grau.  Não satisfeitos, entram na fila outra vez para sentirem a mesma coisa. Saem entorpecidos, imagino, após liberarem todo o estresse do dia-a-dia que deixaram a milhas de distância.

                   Para que ninguém se sinta por demais entediado nessas intermináveis filas, os idealizadores inventam pequenas atrações pelo meio do caminho, mais ou menos com o espírito de que, enquanto se espera pela pessoa certa, a gente deve pode se divertir com as erradas.  Os centros administrativos desses parques controlam, entre outras tantas coisas, o tamanho das filas.  Mal percebem que um ponto vai estrangular, tratam de atrair parte dessa turma para outros locais menos concorridos, com atrações temporárias, personagens ao vivo e a cores para desviar a atenção... tudo para que a gente se esqueça que está há um tempão de pé, às vezes no frio e na chuva!  Em tempo, eu não me submeti a essa coisa toda.

                   O que me deixou animada foi perceber que muitos aproveitavam a espera para trocar idéias com suas turmas.  Não costumo ouvir conversa alheia, mas eu estava ali com a alma livre de qualquer julgamento sobre o que era dito, apenas uma observadora imparcial.  O século XXI aprisionou o homem em seus I-Phones, Smartphones e, sem dúvida, no Facebook; enfim, estão quase todos mergulhados nesse mundo virtual.  Ninguém mais conversa olho no olho... e tem até quem mande torpedo para o filho que está em outro cômodo da casa!  Pelo menos ali, nas filas, estavam conversando, rindo juntos, interagindo tipo old fashioned way. Uma luz no fim do túnel, quem sabe, já que podem readquirir o hábito da conversa fiada.

                   A gente vê todas as variações possíveis de grupos e pares, nacionalidades, uma diversidade impressionante. Vi um bebê com pouco mais de dois meses, o que achei um absurdo completo e, logo depois, esbarrei em uma velhinha de uns 90 anos, em cadeira de rodas elétrica, ostentando um belo sorriso e sua felicidade por estar ali.  Provavelmente, o açúcar da caipiroska que ela preparou era o mesmo que o meu.  Estava em família. 

                   Na tentativa de entender o interesse pela ilha da fantasia, deparei-me com  a estatística sobre o número de televisores ligados no BBB.  Parece que a média é de 1.900.000 só na grande São Paulo. Isso agora, que o programa já não agrada tanto.  Chegou a 3 milhões em uma das suas edições. 

                 Enfim, impossível entender... melhor ficar muda e voltar para minha caipiroska e filosofar um pouco.   Frei Betto fala nos monges tibetanos, que vivem somente a vida interior, sem qualquer interesse no que esse mundo moderno oferece.  E se pergunta onde estaria a felicidade -  na vida estressadas dos executivos, que possuem contas bancárias bem recheadas e podem ir à Disney todo ano, para se entorpecer com aquelas atrações, ou na vida tranquila dos monges, sempre serenos e comedidos ?

                   Gosto do  meio do caminho.  Não fico triste por não poder comprar uma bolsa Ferragamo pela qual me interessei, e ficarei com pena se não puder ir a uma boa exposição de quadros.  Acredito que aquilo que alimenta a alma e o que enfeita o corpo não são coisas incompatíveis.  Levar os netos à Disney e ler, à noite, o livro “Diary of A Bad Year”, do Coetze, cabem nas mesmas 24 horas.  E, assim que puder, vou ao Louvre deliciar-me, mais uma vez, com a Vitória de Samotrácia, usando, é claro, minha bolsa nova da Furla, escandalosamente vermelha.