quinta-feira, 23 de maio de 2013

AI, SE EU TE PEGO


AI, SE EU TE PEGO


             Um estrondoso sucesso planetário.  Meu amigo Jorge, em Casablanca, foi abordado por uma participante do mesmo congresso sobre marcas e patentes. Ao confirmar que era brasileiro, viu-a esquecer-se da burka que trajava e dançar e cantarolar o “Ai, se eu te pego”.  Olha o constrangimento. Dias depois, em Dubai, o atendente árabe no aeroporto, ao verificar a cidadania dele, também começou com a tal musiquinha.
             Esse bordão pegou de jeito todo mundo. “Te pego” não mais significa que vou passar na esquina e você vai entrar no meu carro; ou apenas pegar o filho na escola, a amiga para ir ao cinema.  Meu amigo combinou de me buscar para um café no Garcia e Rodriguez dizendo: - “Amanhã, eu te pego”.  Dependendo da entonação, essa frase tão singela pode virar uma confusão.
             Jamais vou oferecer ajuda para colocar a mala pesada na prateleira mais alta, com a escada, dizendo “Posso t****r com você?”.  Outro dia, ouvi uma conversa banal, sobre alguém sugerindo à interlocutora que desse uma ajuda a um colega de trabalho.  E ela me responde em alto e bom som, para a alegria de todo mundo: -“Já estou dando pra ele.”  Êta dificuldade linguística
             Os significados das palavras não são mais os mesmos e, ao ouvir determinado termo, sou obrigada a pensar duas vezes para descobrir qual o assunto em pauta.  Ontem, uma cabeleireira falava em botox, e custei a entender a história - não se tratava daquele para tirar rugas, mas sim de do botox capilar, coisa nova para mim!  Segundo a profissional, com a aplicação da badalada substância, os fios de cabelo ficam de “cara” nova, tal como as testas.
             Outro susto – fisioterapia capilar. Dei tratos à bola para descobrir que diabo seria isso. O drama é que quarenta por cento das mulheres no Brasil sofrem de queda de cabelo, e confesso estar nesse grupo. As causas são muitas e, no meu caso, não vejo saída para algumas delas. Com a obra terminada, já estou menos estressada – ponto a favor. Por outro lado, mesmo consciente de que o sono faz muita falta, não tenho mesmo jeito: durmo pouco desde criancinha.  E a oleosidade, o terceiro vilão, em mim não é mais excessiva, pois toda a tinta usada para esconder os fios brancos já ressecou bastante minha antiga juba. E lá fui eu, acreditando na história.  Na verdade, adorei a avaliação que fiz com a fisioterapeuta capilar.  Descobri que acertei por décadas, mesmo contrariando aquilo que todo mundo dizia.  E nunca fez mal eu lavar os cabelos todo dia!  Com a quantidade de bobagens que colocamos na cabeça, nossos fios ficam todos recobertos por camadas inúteis!  Portanto, ao contrário de estragar, livrei minhas madeixas da química usada. Valeu a pena a consulta!
Tem o lado sério dessa história, ou seja, daquilo que se fala e aquilo que o outro realmente recebe. Mal entendidos são muito frequentes e podem estragar coisas sérias.  Fico pasma com a dificuldade de comunicação, e apagar o fogo torna-se, inúmeras vezes, impossível.
Porém,bom mesmo é quando geram boas risadas!   Outro dia, troquei a palavra “garfo” por “prato”.  E, ao ouvir de um amigo que ele gostava de comer bem, respondi que eu era um bom prato.  Demos sonoras gargalhadas.  Se alguém da mesa ao lado ouviu, vai me considerar a maior “oferecida” do pedaço.  E vai por aí a fora.  Trocando palavras, ou usando palavras com vários sentidos, podemos ter uma fonte de problemas ou motivo para belas risadas.
Assim, feliz aquela moça feia que “debruçou na janela, pensando que a banda tocava pra ela”, e que hoje vai dormir feliz com a frase do vizinho, acreditando que, finalmente, alguém vai pegá-la de jeito.  Sonhar sempre vale a pena.