O
TEMPO PASSA, O TEMPO VOA...
Março
de 2013
Penso muito no Tempo. Talvez essa energia em megahertz que me
acompanha há décadas traga, de maneira discreta, a preocupação – vou ter tempo
? Tantas coisas interessantes que ainda
quero fazer...Tem gente que diz que tempo é dinheiro, mas eu discordo. Tempo é vida.
O Quarteto é uma comédia
dramática, sobre esse terceiro tempo da vida, e um de seus personagens
principais, assediando sexualmente as mulheres que passam por perto, faz o
contraponto para nos alegrar quando o que acabamos de ver abala as estruturas. E vamos na montanha russa entre o riso e a
reflexão. Aqueles simpáticos velhinhos, todos artistas, vivem em um belo
recanto, na Inglaterra, e nos divertimos e nos emocionamos com os preparativos
para o concerto anual dos residentes, com o grupo tentando angariar fundos para
que o lar onde esses idosos vivem não seja desativado. Vale a pena conferir na telona esse primeiro
trabalho do Dustin Hoffman como diretor, deixando pra lá algumas ácidas
críticas, a meu ver, injustas.
Como cheguei recentemente dos
Estados Unidos, onde existem muitos condomínios para idosos, fiquei curiosa em saber
o que o Brasil oferece para nós. Encontrei
dos mais variados padrões, alguns até bem simpáticos, mas com precinhos meio
antipáticos, e de um formato um pouco diferente. De qualquer modo, não precisam mais ser, apenas,
depósitos de velhos, e não são mais, em sua maioria.
A psicanalista Angela Mucida
discorda dessas comunidades para quem ainda está em boas condições, pois considera
uma desvantagem o distanciamento de pessoas de outras faixas etárias, o que,
muitas vezes, é inevitável. Já temos um quinto dos idosos vivendo sozinhos no
Brasil, e os sessentões, e mesmo os mais adiantados nos anos não são mais
aqueles velhinhos dependentes, sentados nas cadeiras de balanço, olhando o
mundo de longe – vão à academia, saem para dançar, formam grupos e se divertem,
deixando em paz os filhos e netos, que estão completamente atordoados com a
vida profissional, filhos pequenos, e toda essa correria dos tempos modernos.
O que está mais do que
provado é que uma boa vida social, exercícios físicos e alimentação acertada
trazem excelentes resultados. Clube do
Bolinha, da Luluzinha, Clube da Letra, onde a turma escreve coisas lindas,
enfim, clubes ou associações com interesses comuns são fáceis de se organizar e
são um remédio sem qualquer contraindicação para uma vida bem mais saudável. Ando pensando em fundar, qualquer dia desses,
um com pessoas que queiram pintar e bordar.
Espero ter muita gente interessada...
Outro dia, enquanto olhava
coisas bonitas em uma loja de decoração, ouvi uma mulher dizer que já tinha
dobrado o tal cabo da “boa esperança”.
Não me contive e dei meus palpites errados. Foram muitas risadas, felizmente. Eu espero que a tal mulher, de apenas 57
anos, fique mais animadinha e descubra quanta coisa boa a vida ainda nos
reserva. Cabo da Boa Esperança é para
Bartolomeu Dias, não para mim.
Não vai dar tempo, eu sei, para fazer tudo que se
passa nessa cabeça arteira, mas não seriam nem mesmo mil anos que iriam
resolver esse problema. E, além disso, a
vida, depois da tal esquina dos cinquenta, vez por outra oferece novidades e
surpresas boas, e os planos que fizemos nem sempre são seguidos à risca mesmo com
todo o tempo do mundo. O que vale é ir
saboreando o que se tem de melhor enquanto o tempo passa, enquanto o tempo voa...
Enquanto isso, um excelente poema de Viviane Mosé – Tempo.
“Quem
tem olhos pra ver o tempo soprando sulcos na pele / soprando sulcos na pele / soprando sulcos? / o tempo andou riscando
meu rosto / com uma
navalha fina / sem raiva nem rancor / o tempo riscou meu rosto com calma / com
calma / (eu parei de lutar contra o tempo / ando exercendo instantes / acho que ganhei presença) / acho que a vida anda passando a mão em mim / a vida
anda passando a mão em mim / acho que a vida anda passando /a vida anda
passando / acho que a vida anda./ a vida anda em mim / acho
que há vida em mim. / a vida em mim anda passando. / acho que a vida anda
passando a mão em mim / e por falar
em sexo quem anda me comendo é o tempo / na verdade faz tempo mas eu escondia / porque ele me pegava à força e por trás / um dia resolvi encará-lo de frente e
disse: tempo / se você tem que me comer / que seja com o meu consentimento / e me olhando nos olhos / acho que
ganhei o tempo / de lá pra cá ele tem sido bom comigo / dizem que ando até
remoçando”