quinta-feira, 18 de agosto de 2011

O BRASIL ESTÁ COM METÁSTASE


Procuro avaliar os últimos acontecimentos com a máxima isenção possível. As informações, infelizmente, não trazem mentiras ou exageros e o que se vê é de cortar o coração de qualquer brasileiro, mesmo que ele só tenha um pinguinho de amor à pátria.
Não fossem os escândalos suficientes, entendi que nossa autoridade maior exige ser avisada, com antecedência, de toda e qualquer atividade da Polícia Federal. Em outras palavras, precisa saber quem é alvo de averiguações, para que, em nome dos acordos feitos - a maioria acertos espúrios, sabemos bem - possa livrar da lei eventuais amiguinhos. O problema é que tais amiguinhos estão roubando o país; existe outro termo para o que fazem? Não. Por não ser criminalista, fico na dúvida se deveria chamar de furto ou roubo, mas acredito que seja roubo, pois o Código Penal define esse crime como a subtração de coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência. Estamos reduzidos à impossibilidade de resistência a partir do momento em que são os detentores do poder os que praticam tantos atos condenados não apenas pela legislação em vigor, mas também pela moral e bons costumes.
Voltando ao famoso artigo 157, tenho uma dúvida – o futuro de um país é coisa móvel alheia? Para mim, é. O futuro do Brasil é dos quase 200 milhões de habitantes que somos hoje em dia, não deles! Outra pergunta - Quem pratica o crime é apenas aquele que diretamente subtraiu a coisa alheia? No parágrafo primeiro da citada disposição legal, vê-se que se equipara àquele que rouba, e por isso na mesma pena incorre, quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro. Que coisa terrível constatar-se que os atos de nossos governantes estão descritos como crimes... Um desânimo cívico de deixar qualquer um na mais profunda desesperança.
Não sei se estou exagerando, mas essa determinação, pedido ou seja lá o que for, de que a Presidência da República seja comunicada das atividades policiais com antecedência me parece muito estranha. Será que não poderia ser comparada à solicitação de alguma associação de moradores que, em caso de blitz em sua comunidade, igualmente seja avisada com um prazinho para que possam ser assegurados seus acordos com as “bases”, já que, delas, da mesma forma necessita para o bom andamento da vida em comum? Eventualmente, algumas dessas bases podem ser pessoas da comunidade que não estejam do lado da lei, estejam, por exemplo, comercializando substâncias ilícitas. E os dirigentes comunitários vão se achar no direito de também reivindicar um aviso prévio, pois precisam sustentar os acordos, sejam eles com pessoas do bem ou não.
Por que só deputados podem bater o pezinho e, zangadíssimos, dizer que não cumprirão com as atividades pelas quais são regiamente pagos enquanto seus amiguinhos meliantes estiverem sendo ameaçados de punição pelos crimes que cometeram? Por que não podemos todos dizer que, agora, somos nós que vamos bater o pezinho e deixar de cumprir com nossas obrigações enquanto essa pouca vergonha imperar no país? Henry David Thoreau, em 1849, quando publicou suas idéias sobre a desobediência civil, devia estar sentindo o mesmo desapontamento que os brasileiros honrados carregam na alma nesses últimos tempos. Gritou em alto e bom som que os indivíduos não podem permitir que os governantes estejam acima da lei, com suas consciências atrofiadas, atuando de forma injusta e criminosa.
Lembrei-me da experiência que tive durante minha gestão como diretora de escola na Cidade de Deus. Naqueles anos oitenta, eram 3 as associações de moradores, cada uma com interesses diferentes, pois a comunidade, com cerca de 120 mil habitantes, apresentava características próprias em cada um dos subgrupos. Seus dirigentes davam, sempre, belíssimos exemplos de civismo e responsabilidade. Quando o tema de discussão versava sobre Educação ou sobre problemas na área de Saúde, os interesses do grupo como um todo sobrepujavam os interesses específicos, que eram imediatamente deixados de lado. Atuavam todos em prol do bem comum.
O mundo está à beira de um colapso econômico de trágicas consequências, e nossos parlamentares e administradores públicos decidem fazer greve branca enquanto seus interesses particulares, espúrios, repito, estejam “em perigo”. Para onde quer que nossa atenção se dirija, vemos que são muitos os órgãos contaminados. Por isso, inspirada em conversa com Rosa Furtado sobre esse desastre nacional, decidi falar em metástase, falência múltipla dos órgãos. Seria essa a “causa mortis” de nosso país?
Acabei de receber um email dos queridos amigos Sonia e Chaim que veio a calhar. Ayn Rand, filósofa russa, dizia que : “Quando você perceber que, para produzir, precisa obter a autorização de quem não produz nada; quando comprovar que o dinheiro flui para quem negocia não com bens, mas com favores; quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais que pelo trabalho, e que as leis não nos protegem deles, mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos de você; quando perceber que a corrupção é recompensada, e a honestidade se converte em auto-sacrifício; então poderá afirmar, sem temor de errar, que sua sociedade está condenada”.
Mexi no finalzinho do texto... Escrevera que nada havia a acrescentar, além de meu pedido de desculpas aos leitores de meu blog, que sempre encontram crônicas leves, todas com um razoável toque de humor; porém, nesse momento, é impossível falar de flores, pois nosso país corre um grande perigo... Tive que escrever mais um pouco, já que Maria Sylvia me mandou pensamentos do Saramago, dos quais pude pinçar um que cabe como uma luva por aqui. Um dia, ele disse: - “Estou convencido de que é preciso continuar a dizer não, mesmo que se trate de uma voz pregando do deserto.” Vocês todos topam dizer NÃO ?