terça-feira, 12 de abril de 2011

E DEUS CRIOU A MULHER


Ao ler esse título, os homens vão se deliciar, fantasiando com a loura das louras, a Bordot. O filme mexeu com a tropa toda, no mundo inteiro... ela simplesmente abusou - estava deslumbrante e preencheu, como poucas, a telona, a telinha, as revistas, os posters, os sonhos masculinos... Enquanto isso, a imensa maioria de nós, esquecidas pela Deusa da Beleza, fingíamos que não nos importávamos. Mas era difícil não sentir a autoestima fugindo pelo pé.


Não é porque acabamos de sair de março, mês internacional da Mulher, que vou falar do nosso clube. Há tempos penso em brincar com o assunto, usando meu arquivo de coisas engraçadas sobre nossa trajetória sobre a Terra. Para começar, trago logo uma de Lutero, ele mesmo, que disse, lá no século XVI, que “o pior adorno que uma mulher pode querer usar é ser sábia”. Só podemos rir disso, mas tal afirmação cabia como uma luva no contexto daquela época, quando a mulher era mero adorno O mais estranho é que chegamos à lua mas, para os conservadores de plantão, a mulherada mais esperta, consciente, é sinônimo de perigo iminente.


Não tenho dúvidas de que foi somente no século XX que começamos a ocupar um lugar melhorzinho na sociedade... na ocidental, por certo. Uma luta de séculos que ainda não acabou...em certos pontos do planeta, estamos no idade da pedra, infelizmente. Alberto, meu caríssimo primo, recomendou-me, anos atrás, um livro que me impressionou muito – As Boas Mulheres da China, da jornalista Xinran, que mora atualmente em Londres. Para não deixar a crônica pesada, nem vou comentar sobre o que li ou sobre tudo de inacreditável que ainda encontramos no mundo. O objetivo dessa conversa é outro.


As mulheres, havia muito, vinham expressando o desejo de maior participação na sociedade, e a tecnologia foi uma das alavancas para nossa, vamos dizer, libertação. Inconcebível um mundo sem máquina de lavar roupa, por exemplo. Depois que passamos a contar com ela, economizamos, a cada dia, horas e horas de trabalho insano, podendo dedicar esse precioso tempo a diferentes atividades, mais voltadas para nossos próprios interesses. Outro fator a nos colocar no lado de fora do “lar, doce lar”, foi a crescente demanda por mão de obra - durante as grandes guerras, vagas iam surgindo com a partida dos homens para os campos de batalha e, com o fim dos conflitos, houve considerável redução da população masculina. Aos poucos, fomos ganhando espaço, celebrando sempre cada pedacinho conquistado.


Sou uma perua discreta, mas sou perua, Todos sabem o quanto adoro brincos, anéis, óculos grandes, perfume francês, saltos bem altos... isso seria um desastre se tivesse nascido no século XVIII, lá na Inglaterra. Um dos artigos de sua Constituição Nacional deixava bem claro: “Todas as mulheres que seduzirem e levarem ao casamento os súditos de Sua Majestade mediante o uso de perfumes, pinturas, dentes postiços, perucas e recheios nos quadris, incorrem em delito de bruxaria e o casamento fica automaticamente anulado.” Teria o mesmo destino das bruxas de Salem. Não teria sobrado nada para contar os detalhes.


E quem pensa que isso só acontecia na Inglaterra, conservadora até o último fio de cabelo, está redondamente equivocado. A França, no século XIV, era de um rigor igualmente aterrorizante. Mas lembrei-me de que, quando criaram a Delegacia de Mulheres no Rio de Janeiro, foi porque, mesmo que estejamos no século XXI, ainda testemunhamos coisas inacreditáveis. Voltando ao passado - havia um tratado de conduta moral e costumes na monarquia francesa em que uma das regras previa que “Quando um homem for repreendido em público por uma mulher, cabe-lhe o direito de derrubá-la com um soco, desferir-lhe um pontapé e quebrar-lhe o nariz para que assim, desfigurada, não se deixe ver envergonhada sua face. E é bem merecido, por dirigir-se ao homem com maldade de linguajar ousado.” Quem diria. hein?


Já falei em Adão e Eva em outra crônica, onde fiz referência à versão dada pela cultura judaico-cristã - os dois estavam proibidos de comer o fruto da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal; Eva teria sido a mentora da desobediência. Acabaram expulsos do paraíso, legando a todos o pecado original. E as mulheres tiveram, como herança direta de Eva, a culpa por esse tal pecado original. Soube que a Inquisição, nos tenebrosos séculos em que perdurou, deu fim a cerca de 9 milhões de bruxos... desses, oitenta por cento eram mulheres. Dias Gomes, em seu “ O Santo Inquérito”, mostrou um pouco da loucura daqueles julgamentos. Branca é a heroína... morre, mas não trai seus princípios, suas crenças. Preserva sua dignidade.


Volto ao lado leve da conversa sobre nós, mulheres. Ganhamos menos que os homens ao exercermos funções equivalentes mas, segundo as recentes estatísticas, morremos mais velhas. Compensamos, com nossa maior resistência, a falta de força física. Parece que o cérebro masculino tem mais conexões entre os neurônios do que o feminino. Os cientistas explicam que isso não quer dizer que o homem seja mais inteligente mas, sim, que processa as informações de maneira diferente. Eu concordo. Social e emocionalmente, há marcantes diferenças nos entendimentos de cada um dos sexos. Os homens, sem dúvida, não conseguem entender a razão pela qual nós, mulheres, nos restaurantes, sempre vamos juntas ao banheiro. Por seu turno, é impossível entendermos como eles preferem ver um ridículo filme de terror a divertir-se com uma deliciosa comédia romântica...


Enquanto ia escolhendo as “máximas” para a crônica, deparei-me com uma das “pérolas” de Zaratustra sobre o sexo feminino. A vontade de ir um pouco mais além do que já sabia sobre suas idéias se fez presente, e isso me trouxe grandes surpresas. Mesmo tendo vivido no século VII A.C, é impressionante que tenha divulgado que “a mulher deve adorar o homem como a um deus. Toda manhã, por nove vezes consecutivas, deve ajoelhar-se aos pés do marido e, de braços cruzados, perguntar-lhe: - Senhor, que desejais que eu faça?” Chego a duvidar que tenha dito tal coisa. Melhor acreditar que foram seus inimigos que deixaram para a posteridade uma idéia tão absurda dessas como se dele tivesse partido., só para denegrir sua imagem.. Será?


Não parou por ai. Esse complexo filósofo pregava aos quatro ventos que deveríamos fazer ao próximo o que gostaríamos que o próximo fizesse conosco. Eu acho isso uma temeridade... E se o próximo não quiser fazer comigo o que eu quero fazer com ele?, Nossa, que confusão! Bem mais prudente dizer que não se deve fazer com o outro o que não se quer que façam com a gente. Mesmo sendo uma grande injustiça, para muitos nós não somos nada confiáveis. Vai ver que concordam com a letra da Rita Lee, que afirma ser a mulher um bicho esquisito - como podemos sangrar por 4, 5 dias e ainda sairmos inteiras disso? Inexplicável, eu sei.


Melhor terminar a conversa, com uma das “ gracinhas” de Petrarca – “A mulher é inimiga da paz, fonte de inquietação, causa de brigas que destroem toda a tranqüilidade; enfim a mulher é o próprio diabo. Roger Vadim discordava, sabemos - Deus foi o responsável pela criação da mulher. Primeiro fez o rascunho, o homem. Aprimorou no projeto definitivo. Seria um problema se Petrarca tivesse razão - ia ter muita gente preferindo descer do que subir, na certeza de que, conosco lá embaixo, seria tudo muito mais divertido. O melhor de tudo, na verdade, é que, nessa guerra dos sexos, os contendores se tratam, no final, com o maior carinho! Afinal, Deus não nos criou, homem e mulher, para viver no Paraíso?

2 comentários:

  1. Que tal a leitura do livro "Homens são de Marte, Mulheres são de Vénus" de John Gray? Lá está tudo, a mostrar a diferença destes seres maravilhosos e imensamente complexos...
    Bela leitura.
    Boa documentação.
    Acima de tudo, continua com teu salto alto, com os brincos, com o perfume, com a elegância, com o charme...
    Beijo
    Raul

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  2. O fato é: Independentemente das implicações negativas (cada coisa tem as suas), ser mulher é maravilhoso. Eu com certeza seria condenada por bruxaria, pois não abro mão de meus batons vinhos e vermelhos, dos meus saltos!
    Beijos,
    Thaís Gualberto

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