“QUEM NÃO PODE COM A FORMIGA NÃO
ASSANHA O FORMIGUEIRO”
Novembro de 2012
Pois
é, mais uma vez no Recife, cidade que sempre me encanta. Conhecer o Museu do
Homem do Nordeste foi um dos pontos altos dessa viagem, só não superado pela
alegria de estar com a família na semana de comemoração do aniversário de
Alberto, primo nascido no Rio de
Janeiro, crescido no Rio Grande do Sul, mas para sempre em Recife. Foi um “retirante” inverso - partiu das
praias cariocas, passou pelos pampas gaúchos e escolheu esse Pernambuco de
tantos brasileiros marcantes.
O
museu é muito interessante e faz a gente parar e pensar sobre o que significa
enfrentar a aridez da terra, a seca, e ter que escolher entre ir embora, na
esperança de uma vida menos difícil, ou permanecer e enfrentar a natureza e a
devastadora política que sempre comandou a região... De onde vem força para superar tamanha
adversidade? E a coragem para deixar o
chão onde se deu os primeiros passos e a família que teima em ficar?
A
migração no Brasil continua, mas não mais intensamente no sentido
nordeste-sudeste, como foi décadas atrás.
Enfim, o homem em busca de melhores condições é uma história que vem
sendo contada por todo o planeta, em todos os tempos. O fluxo agora, com a mudança do perfil
econômico das diferentes regiões, pode ser até mesmo negativo em cidades como
Recife, Salvador e Fortaleza, que se tornaram atrativos para gente de
todo o país. Acabaram de inaugurar uma
fábrica da Nissin-Ajinomoto, em
Glória do Oitá, na região da Mata Norte de Pernambuco, que vai fabricar 600 pacotes de miojo por minuto. Estamos, no mundo, em décimo lugar no consumo de macarrão instantâneo, e o Nordeste pode se tornar um mercado interessante para a empresa. Isso significa que teremos, por aqui, além da carne de sol com manteiga de garrafa, macaxeira e jabá com jerimum, muito miojo. Prefiro não comentar e ter esperança - os nordestinos hão de lutar bravamente.
Glória do Oitá, na região da Mata Norte de Pernambuco, que vai fabricar 600 pacotes de miojo por minuto. Estamos, no mundo, em décimo lugar no consumo de macarrão instantâneo, e o Nordeste pode se tornar um mercado interessante para a empresa. Isso significa que teremos, por aqui, além da carne de sol com manteiga de garrafa, macaxeira e jabá com jerimum, muito miojo. Prefiro não comentar e ter esperança - os nordestinos hão de lutar bravamente.
Falando em perserverança, em coragem, temos
aqui no Recife a comunidade chamada Brasília Teimosa... nome mais
significativo, impossível. É fácil
imaginar que se constituiu na época em que a nova capital do Brasil estava
sendo projetada. Ao contrário daquela
outra, os que viviam na daqui sofriam constante ameaça de expulsão: as pessoas
construíam suas moradas à noite e as viam sendo derrubadas de dia. Não desistiam nunca, e chegaram a mandar um
grupo de cinco deles numa jangada até o Rio de Janeiro, para divulgar sua luta
na posse de JK na presidência.
A
teimosia foi a marca desses nordestinos contra os interesses dos políticos e
dos grupos econômicos, que queriam fazer do local um depósito de
inflamáveis. Urbanizada há tempos com
recursos do BNH, hoje em dia é centro de atração para os turistas, que procuram
seus inúmeros restaurantes típicos, um deles que já visitei e recomendo –
Império do Camarão, na Rua do Badejo, 32.
O bairro tem cerca de 20 mil habitantes e carrega, orgulhoso, o nome que
revela sua força. Seu povo não teve medo
da formiga e assanhou o formigueiro, todo poderoso. Falando francamente, Recife lucrou com a
troca – uma comunidade organizada, comportada, em lugar do tal depósito de
inflamáveis.
Para
dar título a essa crônica, inspirei-me em trecho de um dos cantos apresentados
na homenagem ao cacique Chicão, lider Xucuru assinado em luta pela terra. Mais
ou menos o que o velho ditado quer dizer – Quem não tem competência não se
estabelece. Na vida ou em qualquer outra
coisa. Mas isso assusta qualquer
um. Como saber de antemão se sou capaz,
se na maioria das vezes somente avalio
minha força quando a situação se apresenta?
Luiz
Gonzaga, pernambucano famoso, fez do limão a limonada... assanhou o
formigueiro, pois dava conta da formiga.
Cada tropeço o fazia ir adiante, não importando a dor que estivesse
sentindo. Recomendo “Gonzaga – de pai
para filho”, de Breno Silveira, lançado para comemorar seu centenário. E minha vinda a esse Pernambuco onde nasceu,
poucos dias depois de me deliciar com sua história na telona, é uma das
coincidências da vida que nos fazem sorrir.
E
enquanto aproveito as delícias de Pernambuco tão acolhedor, penso em seus
filhos que ultrapassaram as fronteiras regionais e encantaram o país
inteiro. Manuel Bandeira, Nelson
Rodrigues, Gilberto Freyre, João Cabral de Melo Neto, eternizado às margens do
Capibaribe, como se a pensar em Morte e Vida Severina...
E é
por isso que eu digo - essa turma do Ajinomoto não sabe o risco que corre. Acho que está assanhando o formigueiro, sem
conhecer bem essa formiguinha nordestina, brava, teimosa e forte como poucos,
que vai defender com unhas e dentes seu caldinho de peixe ou camarão, seu
casquinho de caranguejo, aquele incomparável sururu com leite de coco, o
arrumadinho com uma cerveja pra lá de gelada... Hão de vencer!
E
fechando essa conversa fiada, preciso contar que li, num jornal local, que Asa Branca, de Gonzaga e
Humberto Teixeira, ganhou versão em coreano e vem fazendo um sucesso
daqueles. Ainda não conferi no youtube,
mas não vou perder essa. Devo, entretanto,
confessar que de sua vasta obra tenho um carinho mais do que especial pelos
versos da fantástica Vida de Viajante:
“Minha vida é
andar/Por esse país/Pra ver se um dia/Descanso feliz/Guardando as
recordações/Das terras por onde passei/Andando pelos sertões/E dos amigos que
lá deixei.”
Uma descrição suave e encantadora desse Nordeste que ainda não conheço. Encantei-me.
ResponderExcluirBeijos.
Raul
Precisa conhecer, Raul... Encantador, mesmo.
ResponderExcluirbjs
Ana Hertz
I loved to read about Recife and how well is doing. I can see how you love the Northeast. During my time in Brazil I never been there.
ResponderExcluirGo on writing about your country. You describe it so well.
thanks, dear... You are a loyal reader.
ResponderExcluirbjs