O PÃO E O CIRCO, O HOJE E O
AMANHÃ
Fui aprender como economizar o “pão”, semana
passada, subjulgada por meu espírito curioso (curiosíssimo, devo confessar). Não consegui resistir ao convite para uma
palestra organizado pelo projeto EDUCAR – BOVESPA – Mulheres em Ação, e lá fui
eu. Uma experiência bastante
interessante, isso sem contar que o palestrante, por quatro horas ininterruptas,
prendeu a mais completa atenção de todas nós, cerca de vinte mulheres! Aquele tem o dom e deve ter tomado aulas com
Fidel Castro para não perder o fôlego. Mostrou, sem dúvida, que o mundo
financeiro não precisa ser encarado como um bicho de sete cabeças, e
conseguimos, parece, perder definitivamente o medo do que parecia ser um reduto
predominantemente masculino.
A linguagem direta, divertida e muito
agradável de Antonio Vasconcelos nos deixou bem claro qual o espírito da coisa
– devemos poupar hoje para que seja possível gastar tudo depois! Comecei a desconfiar que é tudo bem o oposto
à filosofia popular de “não deixe para amanhã o que pode fazer hoje.” A cartilha deles ensina - Deixe para consumir amanhã, depois de
amanhã, sei lá quando.
Segundo a boa regra do mercado, o que
salvarmos hoje, vamos de qualquer maneira gastar no futuro, na velhice, daqui a
alguns anos... a vantagem é que o dinheirinho vai aumentar com os juros que
conseguiremos deixando-o quietinho por algum tempo. Esse consumo adiado não quer dizer que será
concretizado, necessariamente, no shopping, nos supérfluos, naquilo que vulgarmente
consideramos consumo, mas será, invariavelmente, consumido. Quem tem dúvidas de
que esse dinheirinho vai voltar à roda viva?
Vai pagar a faculdade dos netos, um apartamento maior, ou até mesmo nos
salvar com os remedinhos que precisaremos para uma vida melhor. Se não voltar a circular pelas nossas mãos, os
herdeiros vão dar cabo dele bem mais depressa do que gostaríamos. Não tem saída - uma hora ou outra, vai girar.
O problema é que é muito difícil sobrar para
que possamos colocar no cofrinho. Se
temos uma receita mais reduzida, vamos nos comprimir no orçamento e damos
conta. Se elevamos os ganhos, vamos nos
espalhando aqui, ali, sem muita percepção do movimento, e logo, logo, não
podemos mais viver fora daquele novo padrão.
A dificuldade é a mesma para o pobre deixar de tomar o refrigerante no
final de semana e o rico comprar apenas meia caixa de whisky, quando está acostumado
a uma inteira! Não nos controlamos, e a
poupança, geralmente, vai para o espaço.
O cartão de crédito, o dinheiro de plástico,
é um sedutor. Como não saem da carteira
as notas e as moedas, a ilusão se
instala de imediato e você nem percebe que gastou! O dinheiro ao vivo está com os dias contados,
servindo apenas para dar ao velhinho da porta da igreja, isso quando a gente
vai à igreja, ou para o chiclete que o menino vende no sinal. Pague seu carro em 60 meses e nem vai perceber
que pagou 3 carros... Pagamos com cheque, com débito em conta; enfim, o mundo
da fantasia, pois o que os olhos não vêem, o coração nao sente, não cifra, e
continuamos com a volúpia das compras, praticamente sem abrir a carteira. Tem agora o comércio ponto com...
Portanto, para poupar, temos que cortar. E os especialistas afirmam - o que primeiro
se corta é o “circo”. O restaurante não mais
será semanal, e o cinema, só em casa, com pipoquinha de microondas. Ou é a
poupança que vai para o espaço ou é o lazer.
Eram cinco e meia, quando acabei de ouvir
essa história toda de poupança, ações, CDB, PGBL, VGBL, cheque especial, e mal
tinha tempo de chegar ao compromisso seguinte.
Literalmente, corri para a Estação das Letras e pude ouvir Tatiana Salem
Levy falando de seu processo criativo.
Naquele espaço, sonhei, voei alto, pensei na alma e não na Bolsa.
Indo para casa mais tarde, noite alta,
percebi o quanto tinha aprendido naquele dia.
Tanto recebi a receita para cortar despesas e aplicar onde posso fazer
render alguns dos meus trocadinhos, como tive a confirmação de que a literatura,
a arte, tudo isso é fundamental ao ser humano.
Em 10 minutos, havia comprado 4 livros.
Resumo da ópera – A BOVESPA e seus
financistas me aconselham a gastar apenas o que é “essencial” para a
sobrevivência. Nada extra! Nem os livros! Com isso, aplico a sobra, deixo render e, em
10 anos, tenho um belo extra no meu cofre de porquinho. Pois é, basta cortar meu lazer, meu prazer...
Pensando cá com meus botões. Faltam 35 anos e meio para eu chegar aos
100. Alguém vai acreditar que vou deixar
de lado alguns dos maiores prazeres da vida para guardar por “meros” 10 anos
uma determinada grana para, depois, consumir?
Mesmo sendo a mais otimista das pessoas, não sou ingênua. Dez anos não são uma eternidade. São uma
preciosidade! Quero desfrutá-los
intensamente. Repito, a BOVESPA não me
convenceu. Vou continuar comprando meus livrinhos, escolhendo a bolsa, não a de
valores, mas a Prada, Louis
Vuitton... Nesse momento da vida, a
poupança é que deve ir para o espaço... não o prazer! Dele, não abro mão. Com
cuidado, é claro, posso ter o pão e o circo. O que vale mesmo é o “Não deixe pra amanhã o que pode fazer
hoje!” E tenho dito!
Tens toda razão, querida prima, dinheiro é feito mesmo para circular. Mas, cuidado com esses palestrantes. Eles são cobra criada dos agentes financeiros. Defendem os interesses do mercado.Querem todo mundo devendo pra eles e pagando juros estratoféricos.Sempre achei que as mulheres não davam boas financistas porque são seguras demais, detestam correr riscos e aí o barco não afunda, mas também não anda.
ResponderExcluirEu tomo cuidado, Alberto... sempre...cada uma que dizem...Mulheres são boas financistas sim, porque não deixam faltar... e o barco anda, sim... Brincadeiras de lado, gosto de ser cigarra, com um pezinho no jeitinho da formiga. beijos
ExcluirAna, sua "croniqueta", como você lhe chama me faz lembrar um post que coloquei faz anos: http://amaral-marques.blogspot.pt/2010/04/as-formigas.html e que ilustra bem o que você diz e conclui!
ResponderExcluirUm beijo!
Raul
Fui lá e li! Ótima! Obrigada pr seu meu leitor fiel!
ExcluirHoje em dia como a economia vai eu prefiro ser cigarra do que formiga.
ResponderExcluirI agree completely enjoy life and live for tomorrrow what can be done today, in this case it is spending.
O bom é ser cigarra com pé no jeitinho de formiga, ou ser formiga com inspiração na cigarra. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra... Um pouco no ar.
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