quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

MAL NA FITA
                                 
             Complicado reconhecer isso, mas acho que, nesses últimos dias, estamos muito mal na fita.  Na novela do Walcyr Carrasco, “Amor à Vida”, as mulheres não se saíram muito bem.  Pilar, Paloma, Aline, Paulinha, Bernarda, Valdirene, Márcia, Linda, Amarilys e Leila são algumas das principais figuras da novela, e com elas já podemos ter ideia do conceito que se extrai do todo.
             A matriarca, vivida pela Suzana Vieira, parecia normal mas, no finalzinho, sabemos que matou uma pessoa.  Aline, a secretária oferecida, conseguiu ser um monstrinho para ninguém botar defeito. Valdirene e Márcia, a primeira, periguete, e a segunda, uma perigosa (uma periguete idosa), eram do barulho..  Se bem que seus pecados eram brincadeira de criança perto do que aprontava Amarilys, louca de carteirinha.  Isso tudo sem falarmos na Leila, personagem igualmente desprezível, que acabou castigada pelo fogo, coisa meio bíblica.
             Poucas se salvaram. Bernarda, uma senhora com valores bem estabelecidos, a menina Paulinha, bem equilibrada, e a mãe, Paloma.  Esta, cá entre nós, embora tenha se mostrado super boa gente, era uma chata de galocha.  Não serviria como padrão, pois seguir o molde tornaria qualquer mulher campeã da falta de graça, de tempero, insossa até não poder mais. O engraçado é que quem ficou mesmo no coração da grande maioria dos espectadores foi o Felix, péssimo caráter, um verdadeiro cretino, que foi redimido pelo autor e, no final, tornou-se uma pessoa “legal”.  
             Na nova trama das 9, já deu para perceber que a tal da Helena, quando jovem, gostava de provocar os pretendentes.  A tia, Juliana, desequilibrada sem tirar nada.  Embora não possa ainda dar muitos palpites sobre a história de Manoel Carlos, já estou imaginando o cenário.  Tem um personagem masculino destemperado, o tal do Laerte, para compensar um pouco os problemas que as mulheres mostram.
             Antes, tivemos a Carminha, de Avenida Brasil, um enorme sucesso, personagem que conseguia ser ainda mais cruel do que o cafajeste do Max, seu eterno amante.  Se não me engano, ela decidiu matá-lo no finalzinho da novela.  Ou seja, pelo que se vê nas telinhas, cuidado com a mulheres.  Podem ser terríveis!
             A História nos traz muitas mulheres com histórias complicadas.  Temos a Salomé que, a pedido da mãe, conseguiu que João Batista fosse decapitado. Catarina de Médici, convenhamos, ficou célebre por vários motivos, mas o massacre de São Bartolmeu talvez seja aquilo que ninguém pode esquecer.  Outra Catarina, a Grande, dominou a Rússia com mão de ferro por mais de 30 anos, e até o Czar Pedro III, seu marido, parece ter sido vítima de suas tenebrosas ações.  Sangue é o que não falta nessas biografias.
             Messalina fez fama, e seu nome serve de “adjetivo” para algumas mulheres sedutoras.  E que tal Bloody Mary?  Maria Tudor não deixou por menos, e a bebida cor de sangue com essa denominação pode ter sido inspirada na rainha que levou a cabo sangrenta perseguição aos protestantes. 
             Para falar das boazinhas dos últimos séculos, na vida real ou na literatura, resolvi conferir, pois poderia ter esquecido algum nome importante.  Deparei-me com várias listas, cujos critérios de seleção me deixaram assombrada.  Muitos misturam alhos com bugalhos, pois no mesmo grupo vamos encontrar Anita Garibaldi, Joana D’ Arc, Maria Antonieta, a de França, Madre Tereza, Brigite Bardot, Frida Khalo e Madame Curie. Até agora, confesso  não ter captado bem o critério adotado.
             Anita Garibaldi, cuja história conhecemos bem, agora em 2012 teve seu nome inscrito no Livro de Heróis da Pátria, depositado no Panteão da Liberdade e da Democracia Tancredo Neves, em Brasilia.  Embora tenha morrido com apenas 27 anos, foi um exemplo de ser humano. Interessante saber que Ana Neri, a famosa enfermeira, heroína da Guerra do Paraguai, também está no livro. Como somente essas duas mulheres estão lá, vamos torcer para que outras mulheres consigam ser incluídas. 
       Madame Curie, com uma inteligência privilegiada, ganhou duas vezes o Prêmio Nobel, um em Física e outro em Química.  Fico impressionada com esses gênios que aparecem vez  por outra.  O lado ruim da história - pagou caro pela dedicação às pesquisas, pois a longa exposição aos elementos radioativos acarretou-lhe uma leucemia.  Foram duas mulheres fora da curva, sem qualquer dúvida.
             Na ficção, não é muito fácil uma “boazinha” se destacar, mas Jane Austen até conseguiu isso para sua Elinor, em Razão e Sensibilidade.  Penélope, por ter esperado o marido por 20 anos sem ceder ao assédio de muitos, também deixou ótima impressão, pelo menos entre os outros maridos.  Enquanto Machado de Assis deixou Capitu no meio do caminho entre a inocência e a culpa, Anna Karenina também aprontou, e Shakespeare mostrou a famosa Lady Macbeth arrependida do que tinha aprontado, preferindo, assim, dar cabo da própria vida. Muito radical, eu acho.
             Não sou ingênua.  Uma vida que se resuma ao personagem acordar, tomar café, ir para o trabalho, almoçar, voltar para casa mais tarde, ver um pouco de TV e cama, claro que não dá o menor IBOPE.  Esse roteiro não deixa milhões de pessoas grudadas no sofá, comentando com os amigos o que viram na telinha na véspera. Li, no livro “LOUCO PARA SER NORMAL”, de Adam Phillips, que trata da loucura e da sanidade, que não há, aparentemente, nenhuma estatística disponível sobre os chamados “normais”.  O autor, psicanalista badalado, afirma que os sãos não são notícia.   
             Por outro lado, uma moça chamada Letícia, que foi excluída outro dia da casa do Big Brother, ganhou muitos, muitos minutos em um programa de domingo, onde foram discutidos alguns pontos “muito importantes”.  Tinha ficado com 3 homens diferentes ou não durante o tempo em que esteve trancada? É uma pessoa falsa ou foi tudo um mal entendido?  Prefiro fingir que não vi nem ouvi esse quadro.
             Enfim, de certa forma, parece que é possível ficar na História fazendo coisas relevantes para a humanidade, ou então sendo cruel, louca, interesseira.  Mae West foi uma atriz badalada e ficou famosa por dizer: “Quando sou boa, sou boa... Quando sou má, sou melhor ainda”. Uma bobagem, eu sei, mas que ganhou peso quando dita com o charme que a atriz carregava.  E continuou, dando, ainda, outro conselho, polêmico, por certo: “A melhor forma de se comportar é se comportar mal”.  Fecho aspas dizendo que a escolha é sua.


3 comentários:

  1. Uma bela apreciação da vida da novela, ou da novela da vida!
    Bjs
    Raul

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  2. Very interesting article.I hope there more women famous for being good than bad. Of course there are fantastic good women that very few know about.

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  3. Parabéns pelo artigo. Mostra que as mulheres, quando querem, podem ser perigosas, na verdadeira acepção dessa palavra. Por isso elas são mais eficazes que nós homens. Não há nada que resista a um beijo e um carinho feminino.

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